quinta-feira, 12 de novembro de 2009

2:48 am

Ela acabara de acordar no meio da madrugada e só agora percebia que ainda estava com o mesmo vestido que saíra ontem à noite.

As imagens voltavam aos poucos, ela ainda se situava no espaço real, mas os flashes das lembranças do dia anterior não lhe saíam da cabeça.

“Que horas são?” pensou. Então se virou para o lado da mesinha de cabeceira, onde o relógio estava; ao fazê-lo, bateu a perna esquerda em algo que estava sob a cama. Um porta-retrato talvez? Decidiu que seria melhor se levantar, acender a luz e ver o que havia derrubado. Mas a cabeça lhe doía tanto que resolveu descansar mais um pouco.

Uns dez minutos depois se levantou, e ao colocar os pés no chão viu que o mesmo estava tomado por papéis. Ligou a luz. A cama estava repleta de restos de fotografias (agora rasgadas), um porta-retrato quebrado no chão de um lado da cama e do outro inúmeras cartas jogadas. Inúmeras juras de amor eterno, o tipo de “amor eterno” onde a eternidade acaba no meio do percurso.

Então ela chorou. Mais uma vez ela chorou. Lembrou do rosto dele. Lembrou porque estava tudo bagunçado daquele jeito. Lembrou porque sentia seu frágil coração tão pequeno e apertado. Por fim: lembrou o quanto o amava.

Ela o amava, ele talvez também a amasse. Mas isso não mais era bom. Para nenhum dos dois. Tudo estava acabado entre eles. Cada vez mais a saudade se fazia presente, mas de que adiantaria continuar insistindo num erro?

O destino já havia provado por A mais B que eles não deveriam ficar juntos, por mais que o quisessem. De nada adiantava a fé em tanto amor se a vida não os presenteou com a sorte.

Triste ter que admitir que eles chegavam ao ponto mais crítico de um coração apaixonado: aceitar que as paixões podem, sim, ser passageiras; que não dá mais; que por mais que nós amemos uma pessoa, não podemos deixar que esse sentimento tire de nós a racionalidade.

E foi aí que decidiram romper aquele relacionamento. Ela estava profundamente triste com aquilo tudo, mas sabia que nada podia fazer para mudar aquela situação que já se tornara irreversível. Sabia que aquela realmente era a hora ideal para abrir mão de um amor que só a trazia sofrimento e angústias.

Ela sentou na cama novamente, sentia os ossos quebrados. “Um mais um é bem mais que dois”, repetia mentalmente, de acordo com o que sua outra metade a tentava convencer que ela, SOZINHA, poderia ser mais que dez, cem, mil...

Pegou então o porta-retrato que anteriormente havia deixado cair no chão. Admirou a foto por uma fração de segundo. Com passos rápidos se dirigiu até o banheiro, ainda com a fotografia em mãos.

Chegando em frente ao espelho, sorriu para seu reflexo sutilmente. Sentiu-se estúpida por um instante, teve vergonha de si. Olhou para seu reflexo mais uma vez, e comparou sua expressão atual com a daquela imagem que via dentro daquele retângulo de vidro trincado. Teve uma certeza: “Nunca mais vou ser feliz de novo”.

Voltou ao quarto, tirou tudo que estava em cima da sua cama, jogou os pedaços de cartas, fotografias, vidro quebrado e todo esboço de alegria que lhe restava, dentro do cesto de lixo. Desligou a luz, deitou-se calmamente, adormeceu com a esperança de não mais acordar.

3 comentários:

  1. Quantas mulheres sofridas de uma só vez, cara.
    Espera que eu ao menos tenha tempo de respirar entre cada uma, rs...

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  2. Memórias Caíquenas de Raj.
    Feitas, sob medida, para minha querida prima, atendendo unicamente aos seus pedidos. rs

    Não verás outra mulher sofrida aqui tão cedo, darling.

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  3. Adorei o texto... poxa vida me identifiquei com muita coisa por alí... mas ao final me senti como um velho de 80 anos... talvez vc entenda o q eu quero dizer mais a frente... ^_^

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