terça-feira, 16 de agosto de 2011

Back to black

Eu cheguei há algumas horas. Quando abri a porta de entrada, senti como se fosse entrar num mundo mágico e único, que só eu conhecia e sentia falta. Tantos dias longe daqui. Mas quando dei o primeiro passo e olhei o corredor, só vi um vão vazio e sem cheiro. Como se ninguém nunca tivesse morado aqui. Como se eu nunca tivesse estado aqui antes. Senti o sangue pulsar mais forte nas veias, uma onda de decepção me assolou e vieram lágrimas aos olhos. Minha mente estava muito cansada, não tenho tido dias bons, talvez eu estivesse esperando que estar aqui de novo me trouxesse a cura. E justamente por a cura não ter estado aqui de imediato, eu me senti ainda mais perdida e cansada. Deitei, tomei meu velho analgésico... Foi quando eu reparei que as coisas estavam exatamente iguais. Que o vazio na casa era na verdade o meu vazio, que a ausência de cheiro era essa minha indiferença gritante. Levantei, desfiz as malas, pus cada coisa no seu lugar. Preenchi o guarda-roupa com as mesmas coisas de antes, coloquei as compras no armário, preparei um café, borrifei do meu perfume no quarto. Já parecia tão familiar de novo, como se a parte de mim que vive nessas paredes tivesse voltado. Fiquei satisfeita comigo por isso. Então peguei as chaves, voltei à porta de entrada e a abri mais uma vez. Eu estava em casa de novo. Eu estou no meu lugar. Deitei, peguei a bolsa e procurei algo que sabia que estava lá. Na fotografia, a menina que estava sorrindo não era eu: eu não sai daqui, aqueles dias lindos não foram meus, aquela ilusão de felicidade já passou, todos aqueles abraços já se perderam no tempo. Eu estou só. Embora haja alguém comigo agora, alguém que já faz parte de mim ao ponto de ser a única companhia que a minha solidão deseja. Eu continuo sozinha. Do jeito que gosto de estar. E toda aquela dor que eu trouxe comigo, toda a dor que algumas palavras de despedidas me causaram pouco mais cedo, continua aqui também. Isso é importante pra mim. Eu já estou adaptada a essa dor, a essa sensação de impotência. Serve de desculpa. Justifica minhas falhas. Embora não justifique, eu posso mentir para mim mesma e dizer que eu só me afundo cada vez mais porque a dor não permite que eu me levante. E por mais que no fundo eu saiba que a questão não é só essa – pode ser, também, essa – essa mania de auto-sabotagem também já faz parte de mim. É assim, aos cacos, juntando partes soltas e sem colá-las perfeitamente, que eu vejo que o analgésico fez efeito e que eu já estou curada.

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