quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pro dia nascer feliz

Eis que a vida fez de mim um inseto. Recolhendo-me em minha própria insignificância, me sentindo tão pequena e vez por outra usando de certas carapaças pra me esquivar dos meus problemas. Não me reconheço mais, não luto mais por meus objetivos. O pior de tudo é a dor que fica aqui dentro. A certeza do quão incompleta e infeliz sou. Surge então a minha maior semelhança com o grupo: a certeza da vida breve. A convicção de que logo isso tudo vai acabar. Ah, como é bom. Um gostinho prazeroso de morte na boca. Como já dizia o poeta: “Uma vida bonita e breve, como a borboleta que só dura 24 horas. Morrer não dói”. Como é bom poder acreditar nisso, morrer não dói, não dói, não dói. Não é como viver, não tem esse gosto amargo e cheio de amarguras da vida que tenho levado. Dessa vida tão morta de quem está aqui sem nenhum propósito. Ainda assim dói, ainda assim nas noites de chuva eu me tranco e choro. Sem força alguma, me recolho e me abraço antes de dormir, imersa na angústia que para mim é estar aqui. Que pra mim é estar viva. Eu morri há tanto tempo. Por que ninguém percebe isso? Sumir é um verbo tão leve e sensato, dá vontade de ouvir. Soa tão bem, tão belamente. Mas até nessas horas as obrigações tomam conta de mim por completo. E mais uma vez, por completo, me vejo incompleta. Envolvida em coisas que me esvaziam cada vez mais. Como secar o mar gota a gota, vagarosamente, mas há aqui uma certeza de que um dia consigo. Não torço pra que seja fácil, torço pra que seja certo. Que seja claro. “QUE SEJA DOCE”. Que seja cheio de luz e de trevas, pois nenhuma palavra se completa sem seu antônimo. Continua doendo, sagrando... É tão difícil, meu Deus. Por que é tão difícil? Um dia eu vou descansar, um sono calmo, tranqüilo e só então conseguirei me libertar dessa vida tão rasa quanto a aquele fio de água que fica no meu criado mudo quando ponho um copo gelado sobre ele e gradativamente vai degelando. Uma vontade transbordante de voltar no tempo e fazer tudo diferente. Uma certeza de cortar a alma de que não posso fazer isso e agora minha única opção é seguir em frente, independentemente do que haja na minha frente.
... Então, consigo avistar. Dirijo velozmente por uma estrada de terra e paro em frente aquele abismo que antes eu vinha para pensar na vida e hoje venho para pensar na morte. Sento no chão e fico brincando com a areia, admirando a beleza sutil de todos aqueles grãozinhos e observando as pedrinhas maiores, tão lindas que são. Há um rio ali na frente, água corrente. “Nunca ninguém se banha nas mesmas águas de um rio”, ouvi dizer. Penso um pouco, volto ao carro. Não tenho forças para dar meia volta, vou seguir adiante. Por mais que caia nesse ou em qualquer outro abismo que haja dentro de mim. Vou seguir adiante. Que a água desses rios lavem meu corpo e minha mente. E que esse vestido branco, de tecido tão fino que quando toca na água fica transparente, me transmita a paz necessária para enfrentar isso tudo com a calmaria de um riacho.

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