Embora pareça de ferro, meu coração, assim como o do José Saramago, é de carne. E sangra todos os dias. Esconder os sentimentos a qualquer preço é algo que pode, verdadeiramente, transformar qualquer um num poço de solidão. Solidão esta que não dura cem anos, como a do García Marquez, mas que possui o dobro da intensidade da tristeza da Clarice Lispector. Buscando esconder atrás de armaduras inspiradas nas do Caio Fernando Abreu, por vezes me vejo tão perdida quanto a Sylvia Plath. Escondendo-me por trás dos livros do Machado de Assis, tenho a certeza que nunca vou viver uma aventura à lá Agatha Cristhie ou salvar o mundo como todos os personagens - sempre tão iguais e previsíveis - do Dan Brown. Augusto Cury não me cura, sou como o Zeca Baleiro: não suporto livros de auto-ajuda. Mas quem vem me ajudar e me dar o seu bem? Ninguém. Não tenho vocação para romances Sheakespereanos, ninguém morreria por mim. E digo isso com a mesma convicção da Ana Cristina César, que acabou tão covarde no seu ato de coragem. Essa interligação ficou visível para mim desde que uma amiga me comunicou que eu nasci com um defeito de fábrica: uma gramática ou outro livro qualquer no lugar do coração. A única coisa que eu não podia supor era que uma gramática poderia guardar nas entrelinhas tanto desespero e vontade de sumir.
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