sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sem atraso, ou com, vai saber

“Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar, mas hoje não.” 

E separo um dia pra mim. Para rever meus pensamentos. Para repensar minhas escolhas. Para decidir se é ou não melhor escolher. Para criar uma idéia base do que significa ser melhor. Para descobrir o que eu sou. Quem eu sou. Para não magoar ninguém, inclusive eu. Para tirar o dia de cama e a noite também. Para olhar as estrelas. Para pensar no que era. No que é. No que vai ser. E, principalmente, se vai ser. E também quanto ao objeto das orações anteriores. Um dia desses eu vou acreditar, vou duvidar, vou sofrer tudo de novo e vou deixar o sofrimento de lado. Vou ficar indiferente. Por mais que isso já seja inerente a mim. Vou me mostrar, vou querer que você se mostre. Vou deixar todos os meus sentimentos à flor da pele, no mesmo momento em que vou constatar que não tenho sentimentos. Que nunca tive, tampouco terei. Vou comprar roupas novas, mudar o cabelo, mudar o tom de voz, o jeito de andar, o jeito de compreender ou deixar de compreender as coisas. Vou sinalizar sutilmente, sem acreditar em sinais. Seria isso um sinal? Toda essa mudança. Essa mudança que eu só planejo, planejo e nunca vem. Até porque eu não quero mudar. Só preciso, mas não quero. Eu só quero deitar naquela velha rede, olhar a praia e sentir o vento. Não esquecendo momento nenhum de todas as minhas responsabilidades. E viver o hoje pensando no amanhã, o que me leva, diretamente, a não viver o hoje. Ir assim adiando a vida, deixando pra mais tarde, pra amanhã, pra depois, pro mês que vem. Para que tudo aconteça num dia. Algum dia. Seja de um futuro breve ou não. Com a esperança apenas de que não seja tarde demais.

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