segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Paradise

"When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
So she ran away in her sleep
Dreamed of paradise
Every time she closed her eyes"


É tudo uma questão de estado de espírito, sempre e indubitavelmente. A questão é que é algo inédito, embora tudo igual. Aquela mesma sensação de indiferença em relação à vida e ao mundo. Mas está tudo tão bonito e tão feio ao mesmo tempo. Acho que isso é o que as pessoas chamam de vida real. Será que, depois de uma vida inteira nas costas, eu finalmente estou deixando minha mania de Alice no país das maravilhas de lado e tentando ter um cotidiano sem histórias mirabolantes e aventuras fantásticas? Não quero criar expectativas. Também assumo que a realidade não me decepcionou tanto, talvez fosse até melhor do que eu supunha. O mundo que eu criei pra mim é mais sombrio, então eu esperava que – de tanto as pessoas reclamarem – isso aqui fosse bem pior. Não, eu não estou falando que é fácil, não estou falando que é ideal. Passa longe de ser. Mas é tão... normal. Tão como eu sempre supus. Eu tinha tanto medo de voltar pra cá, fugi tanto disso. Agora eu penso: era só isso? Era disso que eu tinha medo? Porra, planeta Terra, eu te superestimei demais. Em alguma parte da minha cabeça há um quarto cheio de relógios com o intuito apenas de me lembrar que o tempo está passando, que eu não posso continuar na mesma, que não sou mais a menininha assustada de treze anos. Tenho que começar a encarar as coisas como uma mulher de verdade. Só que lutar contra meus próprios demônios sempre foi tarefa que a menina soube lidar tão bem, sofrendo, chorando, querendo fugir às vezes, mas eu cresci. Eles diminuíram, eu acho. Foram embora. Desistiram de querer me roubar de mim. Ou talvez sempre tenham sido tão pequenos e eu os fiz grandes para não ter que encarar essa realidade tão banal, tão previsível e sem graça. No fim das contas, a menininha assustada e solitária no canto do quarto, era mais corajosa do que a Vanessa Adulta de Salto Alto Tentando Fugir da Fantasia. Ela encarava tudo. Eu não tenho o que encarar. Pode ser que nem seja covardia da minha parte, é que é tão pequeno. Essa indiferença sufoca. Quero demônios à minha altura. Não cresci à toa. Não quero voltar à utopia. Não quero me esconder embaixo do cobertor e passar a noite inteira narrando contos macabros para os meus ursinhos de pelúcia. Talvez eu tenha lido tragédias demais, visto muitos filmes de drama, escutado muito blues... mas é que agora me parece simples. Simplesmente simples. Essa era a pior descoberta que eu poderia ter feito em toda a minha vida. Eu viajava por tantas galáxias nos meus pensamentos. E agora é como minha mente fértil tivesse sido roubada de mim e eu só consigo acreditar no palpável. Mais racional do que nunca. Pior do que nunca. Mais vazia do que nunca. Mas está tudo bem. Eu resolvi tudo. As coisas ficaram claras e eu fico feliz por isso. Fico feliz por finalmente conseguir levar uma vida normal como a de qualquer outra pessoa. Se eu continuar desse jeito, capaz de daqui a uns meses por como metas na vida casar e ter filhos. É, eu já fui melhor. Já planejei dominar o mundo, já dominei o mundo tantas vezes. Que deprimente. Triste fim de Vanessa Isis. Eu simplesmente não consigo acreditar que estou contente com isso, não dá! Pior seria se eu continuasse forjando problemas que não tenho, só pra conseguir manter a mente ocupada. Nada está perfeito, mas as coisas estão certas. É assim. Seria dramatizar demais, fazer muita tempestade em copo d’água. Qual o meu problema? Hum... deixa eu pensar. Eu já me dei melhor na vida acadêmica. É, acho que só isso. Então... Qual a grandeza disso? Até onde isso vai me afetar? Gosto de preocupações, cara. Gosto de ter problemas pra pensar. Não sei se a palavra é “gosto”, acho que só me aceito mais assim. É uma questão de aceitação. Desde as minhas primeiras lembranças da vida, as coisas eram piores. Sempre fui mais fechada, sempre fui mais egoísta, agora eu me rendi. Igualzinha a outra metade do mundo, só aceitei. Ah, não, eu não posso ser só mais uma acomodada. Tampouco posso deixar que essa sensação de ser errado ter se acomodado e estar feliz me leve à loucura. Consegue ver? Eu estou procurando algo pra esquentar a cabeça. Talvez seja como minha mãe diz: eu só preciso de uma boa dose de sofrimento de verdade pra parar de reclamar da vida. Não nasci para clichês de felicidade. Gosto de choro, gosto de dor, gosto da minha depressão, gosto de viver daquele jeito, no meu mundo idealizado à la “As crônicas de Nárnia”. Meu problema é esse: gosto de coisas fantásticas e a trivialidade dessa vida me cansa muito. Talvez eu precise de tempo, para conseguir que minha mente finalmente descanse depois de dezenove anos de reclamações constantes e de motivos constantes para reclamações. É só uma mudança no estilo de vida. Daqui a uns dias pode ser que eu goste de viver assim. Se não? Ah, se não eu vou jogar tudo pra cima mais uma vez e procurar algo que me interesse, algo que me faça voltar à minha viagem constante a tantos universos. Se não eu vou me dar um tapa na cara e desistir. Teimosa como sou, até vejo lógica em pensar que vou desistir. Eu me canso dessa minha bipolaridade, são duas escrevendo aqui. Elas não se dão bem, é. As duas Vanessas não coexistem mais tão bem assim, está tudo equilibrado demais: eu preciso da minha dose de desequilíbrio e uma pitada de novela mexicana para animar as coisas. É, eu vou conseguir.


Um comentário:

  1. Não sei se é a volta do amor ao peito ou uma pancada na cabeça, mas um dia isso ia acontecer. Acontece com muita gente e eles nem percebem. Sua glória foi sacar majestosamente tudo isso. Na minha opinião tua mente só parou pra descansar, depois volta a ter tudo aquilo que você gostava, com o acréscimo (ou decréscimo) de algumas coisas a mais.

    Gostei MUITO do texto! **__**

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