quarta-feira, 14 de março de 2012

Sem efeito

Sentiu o chão desaparecer no momento em que ouviu aquelas palavras. Toda aquela lembrança que guardava em si como se fosse a essência da sua vida, o que ela acreditou que fosse amor, acabara de ser diagnosticado como uma síndrome. E, como se ela estivesse vivendo uma mentira que se fazia real a cada dia, uma série de medicamentos faria dela vazia de novo. A solução não era mais uma garrafa de tequila e uma porção de amigos tentando convencê-la de que tudo ia acabar bem. Já nem bebia mais. Já havia descoberto que seus amigos não eram tão amigos quanto ela pensou que fossem. Sabe, bateu uma angústia estranha, uma incompletude tão completa. Percebeu que o sadismo do outro só fora alimentado porque ela e o seu masoquismo permitiram. Mas agora ela tinha um médico, que via tudo de fora e subestimava aquele sentimento sublime dando-lhe o título de transtorno emocional. Como a vontade de que existisse. Como o apego ao que lhe fazia mal. Até concordava, em partes, quanto a se apegar ao que lhe fazia mal. Ela queria sentir, não importava o que, não importava se não era algo bom, sentir fazia dela viva. O que ela seria agora? O que ela era de verdade. Sentiu-se humilhada. Como se todos fossem capazes de reparar que a única coisa que ela realmente amava era à idéia de amar. Era poético e bonito. E todos os grandes romances da história foram tristes. E todo grande amor só seria grande se fosse triste. O dela o era, especialmente. Mas o dela não era amor, era síndrome. Não conseguia chegar a um consenso quanto a qual das opções seria pior. Eram as que ela tinha e ambas lhe pareciam corretas. Talvez ele estivesse certo, ela era só mais uma melancólica e o afundava, não o médico, o moço. Talvez tudo que ela precisasse era de um par de anti-depressivos e alguém lhe avisando que aquilo a iria curar. E um dia cura, sempre cura. Seja amor ou seja doença. Quem é o mais doente de nós: o sádico ou o masoquista? Eu. De longe. Espero um dia aceitar a idéia de que tudo isso que eu estou passando agora e que eu já passei antes, todas as lágrimas que o travesseiro enxugou, foram porque eu sou louca, não apaixonada. Nunca irei. Ainda me resta orgulho. Mesmo pisado. Deixa eu me enganar. Deixa eu tentar ser normal. Só isso. 

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