Era engraçado. Luísa sempre foi uma menina diferente das demais. Tinha aquele ar de arrogância peculiar das meninas complicadas. Sorria sempre de canto de boca, como que pra demonstrar uma superioridade que nem ela mesma sabia se tinha, mas que a confortava. Acostumou-se desde cedo a conviver com a solidão, sua única verdadeira companhia. Até então. Foi quando encontrou seu primeiro amor. Garotos? Não, Luísa não era do tipo que deixaria seu mundo virar ao avesso por causa de um envolvimento emocional qualquer. Sua primeira amiga. Virou parte de si própria. Isadora trazia Luísa à vida quando, nas suas diárias crises existenciais, ela pensava em deixar tudo de lado e jogar pra cima o pouco que possuía. E, por mais que doesse, acalmava-se por saber que, no meio da noite, no meio de um choro qualquer, aquela voz sonolenta do outro lado da linha iria dizer que as coisas iam ficar bem, que aquela pessoa que fazia de tudo por ela, também a ajudaria a segurar as pontas até que recuperasse sua habitual força para lidar com seus habituais problemas. Virou hábito. Passou a habitar, inclusive, um espaço enorme na casa e na menina. Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares... as duas continuavam as mesmas, até pelo pacto que haviam feito, depois de tantos segredos compartilhados e histórias para contar aos netos. Não foram poucos os dissabores que Isadora tomou como teus. Os dias, generosos, resolveram presentar Luísa mais uma vez. Na nova cidade, entre os novos rostos, talvez com um pouco de atraso, eis que a menina de nome sugestivo apareceu para dar mais cor àquele outro céu. Elis, numa proporção que batia de frente com o tempo, encantou a menina. Talvez por compartilhar das mesmas dores, dos mesmos medos. Ambas sofriam. Inicialmente, não caladas. Contudo, devido às diversas tentativas de fazerem as coisas certas e ao indiscutível sucesso em não conseguir realizar esta façanha, calaram. Preferiam ouvir. Evitar falar, para ver se assim não ouviriam um “eu te avisei” mais à frente, que de nada adiantava, mas que já se fazia costumeiro. As duas erravam. As duas começaram a encarar seus erros com mais tranquilidade e calmaria, pois não eram as únicas, e àquela altura do campeonato, não estar sozinha no barco já era uma vitória. Reuniram-se as três e viram o quanto tinham em comum. O cômico era que a dor as havia unido. E era justamente esta dor que ia embora depois de cada conversa, de cada bebida, de cada loucura, de cada um dos detalhes mínimos que começaram a fazer toda a diferença. Então Luísa ria. As três meninas erradas, errantes, agora tão mais maduras e tão mais completas, estavam crescendo. Por mais que o presente doesse, haviam chegado ao consenso de que as coisas seriam mais bonitas no futuro. E se não fossem? Ah, se não fossem elas continuariam se reunindo para seus vinhos na madrugada, para seus planos de organizar massacres em conjunto, ou para dominar o mundo. Até porque, com aquelas três juntas, nem o diabo podia... AVALIE, essa coisa pequena e mesquinha, a vida!
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