Quando ela acordou naquela manhã pouco ensolarada, paradoxalmente, tudo estava mais claro. Consultou seu relógio, antes mesmo de lembrar não precisaria do seu apego aos horários. Espreguiçou-se e, de repente, a cama de casal pareceu do tamanho ideal para ela. Seu corpo esguio parecia tomar cada centímetro daquela superfície macia e isso fazia com que a moça se sentisse grande, literal e figuradamente. Após alguns minutos de preguiça e reflexão, levantou-se e preparou a cafeteira. Ao sair do banho, o apartamento todo cheirava a café, limpeza e paz. Pegou sua velha caneca, lembrança que o rapaz trouxe pra ela havia um considerável tempo... que agora, mais que nunca, era só outra lembrança, e foi até a janela enquanto deixava o gosto do café tomar toda a sua boca. Encostou e ficou ali, parada, pensando. Ria consigo ao constatar como as coisas mudaram em sua vida. Se alguns meses antes alguém tivesse chegado para falá-la que agora ela teria, finalmente, conseguido desenvolver essa habilidade ímpar em desconsiderar, ela duvidaria. Eis que conseguiu ser tudo o que quis ser: desapegada. Então constatou que acabara de modificar seus anseios: não era desapegada que a moça queria ser. Queria, só não sabia, ser humana e estável. Duas características que jamais se acertaram no mesmo passo. Mas era uma busca, precisava buscar algo. Estava vazia, porém não insatisfeita. Essa sensação conseguia fazer dela, dentro dos parâmetros aceitáveis para alguém com suas dúvidas, tranquila. No mais, se alguém a buscasse, hoje, ela não estaria. Precisava da companhia exclusiva de si própria. Um dia, talvez em breve, Isabela voltaria a se esforçar pra caber dentro da sua armadura e encarar tudo de novo, não agora, não por enquanto. Deixa tocar a campainha, deixa o celular chamar, deixa fugir dos outros, se o objetivo for se encontrar, menina. Deixa ser, Isabela, só deixa.
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