Vai, moça! Deixa que doam todas
as dores de uma só vez. Faz sentir a ardência e faz ver o sangue escorrer pelo
corte que sequer chegou. É disso que você precisa. De lembrar quem tu és. Pra
te lembrar que, pra você, vai ser sempre mais difícil. Deixa doer o passado, já
que pra ti tanto importa. Deixa doer o futuro também, já que você tanto o teme.
E não tenha vergonha do seu medo, ele é a única coisa sua que você ainda
possui. Ergue a cabeça depois. Levanta da cama, sai desse quarto. Este que te
traz a certeza de que tu estás sozinha mesmo quando rodeada de gente. Este que
te traz a certeza que é esquecida mesmo quando te olham nos olhos. E não te
enxergam. Mesmo que vejam tuas lágrimas, ouçam tua voz e observem teus gestos.
Porque você está ali, você está aqui, mas você está aquém. Tal qual tua paz que
você tanto sonha e busca. Deixa sonhar também, menina, não perca a fé. Por mais
estúpido que seja esse sentimento, tu precisas da tua fé pra manter-se firme,
mesmo agora, sem firmeza alguma. E desequilibre-se. Aproveita tua corda bamba,
samba em cima do fogo, o que mais você tem pra perder? Dê-se uma chance,
recupere sua postura. Chore até não restar mais liquido algum em seu corpo,
quando você acordar, verá que o travesseiro também já secou. Porque dor é como
o choro, vem e vai. Evapora depois. Você nem sabe pra onde foi, mas acabou
indo. E qualquer resquício de salubridade vai ser tão insignificante que vai
passar despercebido mais à frente. Pode voltar, claro. Ninguém sabe qual vai
ser a última vez que vai chorar, tampouco a última que vai sentir o chão fugir
aos pés. Algumas pessoas nascem pra ser assim, como você, difíceis. Não
reclame. Não se queixe. Não faça birra. Não implore por atenção. Só viva sua
tristeza com a mesma intensidade que vive suas alegrias e deixe-a ir quando for
a hora. Você nem sempre sabe quando é a hora, mas tem sabido de tanta coisa que
todo o seu meio milhão de outras personalidades têm se orgulhado da sua
destreza. Então levante, quando for para levantar. Importe-se apenas consigo,
pare de se importar com o que não se importam. Pegue tudo o que você precisa e
deixe. Deixa, deixar estar. Não é esse o verbo mais fascinante? Deixar. Aqui,
ali, com você ou com alguém. Um dia você aprende a viver.
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