quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Dia-a-dia, lado a lado

Abri os olhos devagar e vi que já havia amanhecido. Permaneci imóvel. O braço por cima da tua cintura, um esboço de sorriso nos lábios e a vontade de estar ali, só estar ali, sem precisar me mexer, sem precisar que você se mexesse, só estar ali e que aquele instante também não saísse dali, ficasse tão preso e imóvel naquela epifania quanto eu. Engraçado até, depois de tanto tempo, depois de tanta coisa, considerar algo que um dia já foi tão costumeiro como uma epifania. Mas havia uma clareza que enchia o ambiente de paz e me enchia da mais verdadeira felicidade: a simples. Daquelas sem delongas, daquelas que dominam a gente sem que nada especial precise ter acontecido, uma satisfação crônica consigo e com o mundo, como se eu fosse tão maior que meus problemas e nada pudesse me abalar. E nada podia, sabe? Eu estava exatamente onde eu queria estar, no meu lugar. Sem a cabeça cheia de minhocas que tanto tinha me mantido inconstante. Agora era como se aquela cortina branca balançando na janela e até o jarrinho de flores que eu esquecia sempre de aguar estivessem me saudando por ter acordado em mais um dia lindo. E eu queria ter sempre dias lindos, eu queria ter sempre o peito assim, tão cheio e tão leve. Mas aí eu abri os olhos devagar e vi que ainda era madrugada, que meu braço tava caindo da borda da cama, minha cabeça ainda pulsava de enxaqueca, e todas as lembranças me saudavam. Não era a cortina da janela, tampouco o jarro de flor. As flores já tinham morrido, a janela não era aberta há dias e não havia mais ninguém. Só eu, um punhado de coisa ruim na bagagem e a fé na mudança. Rala, escassa, mas ainda ali. Exatamente ali. Olhando pra mim, da mesma forma que eu pensei estar olhando pra você. 

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