quarta-feira, 2 de julho de 2014

Love songs

Era tudo canção. Começava numa melodia doce, que condizia com aqueles passinhos apressados da moça, mesmo sabendo que ainda era cedo e que sua pressa de nada adiantava. E era tudo doçura. Como um clássico da bossa nova que deveria ter existido e não existiu porque ninguém presenciou aquele momento. Como se nunca houvesse havido um verdadeiro bom filme, já que nenhum narrava aquela história. Acho que a doçura se dava justamente pela simplicidade da situação. Em poucos minutos já havia chegado a seu destino. Sentou ali, seu vestido florido nos joelhos, conferindo o relógio a cada dois minutos e agora a bossa nova era substituída por um solo de rock clássico, daqueles extensos e sublimes, e a música parou no exato momento em que botou os olhos no rapaz. Com as mãos geladas e o coração batendo mais forte que qualquer bateria, ela não saberia dizer a expressão facial que lhe dominava. Ela riria se a visse quase correndo para cair naquele abraço. De repente a melodia doce voltava e era tudo amor. Cada detalhe era amor. Cada detalhe era canção. Todas, de todos os tipos. Da orquestra sinfônica ao violão à beira mar. Do maior dos bregas ao mais pesado rock’n roll. E aquele abraço... Qualquer um que passasse na rua e visse aquele abraço iria sentir inveja de não ter um amor assim. Um que enche a cidade de som e de cor. De repente era tudo verde, o céu mais azul, as flores do vestido pareciam se multiplicar, era como se todos os dias fossem uma manhã de domingo. E foi feliz como nunca pensou que seria. A cada reencontro era feliz como nunca havia pensado que seria. Sairam de mãos dadas e cada instante parecia ensaiado. Como uma coreografia outrora planejada. Confesso que eu, amarga que sou, por um tempo fiquei observando de longe e pensando que aquilo não tinha como ser real, se até eu ouvia a música. Se até eu tinha vontade de levantar e dançar também. Meu devaneio foi interrompido pelo toque do meu celular. Era ele. Queria avisar que fez boa viagem. Dei um riso solto quando percebi que o que via não passava de uma lembrança daquele encontro, que a menina de vestido era eu, que o rapaz do outro lado da linha era o que fazia cada palavra virar poema e que eu ainda não havia ido embora desde que falei aquele “volte logo”. Mais que um convite, uma súplica, mais que uma súplica, a letra da música que não para de tocar aqui dentro. 

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