Era tudo canção. Começava numa melodia doce, que condizia
com aqueles passinhos apressados da moça, mesmo sabendo que ainda era cedo e
que sua pressa de nada adiantava. E era tudo doçura. Como um clássico da bossa
nova que deveria ter existido e não existiu porque ninguém presenciou aquele
momento. Como se nunca houvesse havido um verdadeiro bom filme, já que nenhum
narrava aquela história. Acho que a doçura se dava justamente pela simplicidade
da situação. Em poucos minutos já havia chegado a seu destino. Sentou ali, seu
vestido florido nos joelhos, conferindo o relógio a cada dois minutos e agora a
bossa nova era substituída por um solo de rock clássico, daqueles extensos e
sublimes, e a música parou no exato momento em que botou os olhos no rapaz. Com
as mãos geladas e o coração batendo mais forte que qualquer bateria, ela não
saberia dizer a expressão facial que lhe dominava. Ela riria se a visse quase
correndo para cair naquele abraço. De repente a melodia doce voltava e era tudo
amor. Cada detalhe era amor. Cada detalhe era canção. Todas, de todos os tipos.
Da orquestra sinfônica ao violão à beira mar. Do maior dos bregas ao mais
pesado rock’n roll. E aquele abraço... Qualquer um que passasse na rua e visse
aquele abraço iria sentir inveja de não ter um amor assim. Um que enche a
cidade de som e de cor. De repente era tudo verde, o céu mais azul, as flores
do vestido pareciam se multiplicar, era como se todos os dias fossem uma manhã
de domingo. E foi feliz como nunca pensou que seria. A cada reencontro era
feliz como nunca havia pensado que seria. Sairam de mãos dadas e cada instante
parecia ensaiado. Como uma coreografia outrora planejada. Confesso que eu,
amarga que sou, por um tempo fiquei observando de longe e pensando que aquilo
não tinha como ser real, se até eu ouvia a música. Se até eu tinha vontade de
levantar e dançar também. Meu devaneio foi interrompido pelo toque do meu
celular. Era ele. Queria avisar que fez boa viagem. Dei um riso solto quando
percebi que o que via não passava de uma lembrança daquele encontro, que a
menina de vestido era eu, que o rapaz do outro lado da linha era o que fazia
cada palavra virar poema e que eu ainda não havia ido embora desde que falei
aquele “volte logo”. Mais que um convite, uma súplica, mais que uma súplica, a
letra da música que não para de tocar aqui dentro.
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