Ele me trazia paz. De longe, essa era o maior dos seus
defeitos. Pode não parecer fazer sentido, mas fez. Eu não consegui dormir na noite
passada. Sei que, para alguém que sofre de insônia desde a infância, isso não
deveria ser grande coisa, mas foi. Foi
grande coisa porque eu não consegui dormir lembrando dos telhados.
Era nosso primeiro encontro formal e eu sempre fui uma
menina com pouca inteligência interpessoal. Já havia cometido todas as minhas
mancadas de quando conheço alguém que desperta meu interesse e ainda assim ele
quis ir além. Ainda assim ele quis entrar na minha vida.
Ganhou-me ali. Ganhou-me sem sequer ter tocado em minha mão.
Questionei-me quase a noite inteira até onde eu já havia me mostrado para ele,
uma vez que ele parecia conhecer minha paixão pela noite, pelas luzes, pelas
cobertas das casas estranhas e espalhadas pela cidade. Eu ainda não sabia o que
fazer com meus olhos, com minhas mãos e me mantive atenta e taquicardíaca a
cada detalhe.
Meu coração bobo, criança, de quem precisa se lembrar o
tempo todo que não deve se apaixonar, se derreteu quando pisou os pés naquela
cobertura. Éramos eu, ele, uma garrafa de vinho e os telhados pra olhar. Era
lindo. Nem sei dizer se a cidade ou se ele, se aquele momento ou se aquilo que
eu senti. Não havia nenhuma música mais linda que aquele silêncio. Eu poderia
narrar cada centímetro de cada coberta de cada casa daquela noite e daquele
lugar.
Ele sabia tanto de mim enquanto eu nada sei dele, mesmo agora.
Não sei se é falso ou sincero, sei que não pode continuar.
Sei que a segurança que sinto dentro do seu abraço na verdade é o maior risco
que corro. Sei que a paz que me inunda em sua presença, meu riso frouxo, meu
pouco tato, minha timidez repentina e minha vontade de ser amada não podem ser saudáveis,
porque não é saudável se encontrar assim em ninguém que não eu mesma.
Porque sei que é suicídio se jogar de cabeça num poço
claramente vazio.
Porque temo conhecê-lo, mesmo ele me conhecendo como a palma
de sua mão.
Porque a constância dele em minha vida já me assusta.
Porque a constância dele em minha vida já me assusta.
Porque eu não desvendo o que dizem os seus olhos.
Porque eu não posso estar apaixonada.
Por ele, não.
Por ele, não.