terça-feira, 5 de outubro de 2010

City of blinding lights

Virgem, ascendente em peixes e com a lua transitando na casa 6.




                E não há mais nenhuma glória, nenhum vestígio daquele amor, nem nenhum herói que eu possa pedir que me socorra. A única coisa que ainda existe aqui dentro é a dúvida acerca de você realmente ser esse poço vazio e frio, e o que fez com que eu me atirasse aí dentro: foi só amor ou medo de ficar sozinha outra vez? Tenho colecionado cada vez mais desilusões. Você é uma delas. Fico imaginando como seria se eu tivesse uma forma diferente de encarar as coisas, conseguiria ser pior. Tenho a sorte de não desenvolver expectativas, de esperar acontecer, de enganar essa ânsia de um Amor Para A Vida Toda e mesmo assim ando cada vez mais triste. Devo aprender a não acreditar nem na realidade que vejo, porque as coisas se transformam numa velocidade incrível, vê só? O que eu digo agora talvez nem condiga mais com o que eu disse no começo. E isso está ficando cada vez mais confuso, e eu estou ficando cada vez mais confusa. Problemática, trancada, cheia de paranóias e com medo de viver. Uma sensação estranha de que não posso demonstrar ou até mesmo desenvolver afeto, seja lá por quem for, e isso me cansa. Cansa também isso de eu viver me cansando de tudo e nesse momento estou tão cansada que não consigo descrever em minúcias o que é realmente isso. Se é que eu sei. Também não sei se sei. Dá uma vontade de gritar, de correr ou de encontrar alguém no meio da rua e abraçar forte essa pessoa, quem sabe por pensar que um desconhecido qualquer seria a única pessoa capaz de me entender, a única pessoa capaz de se sentir como eu me sinto e talvez ele também passe por tudo que eu passo e eu penso nisso todos os dias da janela do meu apartamento e olho por detrás do vidro dessa janela à noite e vejo esse mundo de luzes acesas na cidade e me pergunto se alguém em alguma daquelas janelas sente isso também. Se não sente, pelo menos se pensa nisso também. Tá me entendendo? Se pensa que em alguma daquelas janelas e luzes que ela deve enxergar da SUA janela existe alguém que passa e sente pelo menos que ela. Mas é tão difícil saber, gritar tão alto que todos possam ouvir e alguém apareça com a resposta. E no começo nem era essa resposta que eu buscava, Meu Deus, aonde eu vou parar? Não confio mais em mim. Acho que já me perdi faz tempo e o que é isso, afinal? Por favor, seja lá quem você for, nunca acredite quando eu disser que te amo ou que preciso de você. A única coisa que eu realmente amo e preciso é de mim, mas há tempos que não consigo me encontrar e bater aquele velho papo cabeça com cada neurônio que ainda me resta. Cada neurônio que ainda não foi morto pelo álcool ou pelas poucas horas de sono, por todas essas noites mal-dormidas e todos esses sonhos mal-sonhados. Por toda essa vida mal-vivida e por todos esses sentimentos mal-sentidos, ou até não-sentidos. E como meu coração está quebrado, resumindo-se a farelos impossíveis de serem colados, um vidro blindado que agora mais parece areia. Como uma boa virginiana que sou, não consigo entender também como pude deixar as coisas fugirem do meu controle da maneira que fugiram. É como eu vinha pensando hoje enquanto caminhava: não devemos abrir nossos olhos para o que acontece à nossa volta a tempo, e sim antes de todo e qualquer acontecimento pensar em vir a acontecer. Esta é a única forma de prevenir esses calos, esses cortes e todas essas cicatrizes que nunca vão me abandonar. E toda essa dor aqui dentro e essa vontade de sumir e essa necessidade de chorar no ombro de outrem e a única coisa que está ao alcance das minhas lágrimas é aquele velho travesseiro com cheiro de mofo. Meu corpo fede a guardado, a abandono, a tristeza. Às vezes eu sem querer passo a mão próxima ao rosto para ajeitar o cabelo que cobre os meus olhos e consigo sentir aquele cheiro forte de naftalina. Então, não sei se por lembrança, por fraqueza ou por rancor: eu choro. Sempre um choro intenso e desesperado, mas que ninguém percebe e eu levo os meus dias esperando ser notada. Esperar é algo sempre muito cansativo. Principalmente quando você deveria estar no auge da vida e repara que sua vida há muito acabou e você deixou-a passar por você, sem nem ao menos acenar em despedida. Um aperto forte no peito, uma dor forte (de cabeça ou de cotovelo) e um nó na garganta. Hora de engolir, o show continua e mesmo que eu seja minha única platéia, como uma boa virginiana preso pela pontualidade. Pela pontualidade, pelo perfeccionismo, pela organização... e talvez por isso eu esteja cada vez mais sozinha e incompreendida. Criando uma dessas doenças da Classe-Média Trabalhadora Vitimada Pelos Males do Século. Oh, destino cruel! Oh, drama de novela mexicana. Queria ao menos me levar a sério. A melhor coisa que eu faço é tomar aquele velho banho de água gelada, pintar esse rosto que eu gosto e que é só meu e persistir na minha espera. Cansei. 

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