segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não é mais uma questão só de encontrar as chaves

Mais uma vez a insônia é minha companhia. Alguma parte de mim implora por sono, outra dispensa. Em algum lugar dentro de mim, ainda havia alguma voz que pedia pra eu tentar de novo. Como tentar de novo quando ainda se está tão cheio de feridas ao ponto de não conseguir levantar? Eu preciso da minha solidão, que fiquemos só eu e ela por um tempo. Seja este longo ou breve, é o que eu preciso agora. Rever conceitos, repensar situações, replanejar minha vida de forma que não fuja muito do roteiro anteriormente traçado. Como é ruim ser de virgem, como é ruim acreditar que todas as pessoas, assim como eu, possuem essa mania ímpar de deixar tudo claro. Mas o que há de tão errado em se querer explicações? É, o próximo tem que ser virginiano, por mais que não dê certo, talvez ele me entenda. Talvez não. Talvez não haja sequer um próximo. E além do mais, também não gosto de refletir sobre isso como se fosse apenas uma questão de substituição. Nunca será a mesma coisa. Um jeito diferente ao enlaçar minha cintura ou olhar nos meus olhos, sempre haverá alguma peculiaridade. Então, como, diante disso, eu posso reagir como se fosse uma questão apenas de preencher a prateleira com um outro porta-retrato? Não é assim que funciona. Não, não é. Pode ser com algumas outras, até com várias, não comigo. O que me intriga nessa situação é especialmente uma coisa: deixar a porta aberta. Ato este, que pode ser extremamente perigoso. Nunca se sabe, pode ser que venha alguém e leve tudo, deixe-te de mãos atadas e coração na mão. Ou pode ser que venha outro alguém e bata antes de entrar, organize tudo e espere por você sentando no sofá olhando a chuva cair por trás da janela. Mas não, este último tipo é praticamente inexistente. As pessoas não costumam ser tão honestas. E o que eu, logo EU, sei sobre as pessoas? Alguma coisa qualquer, de completa insignificância. Voltando ao que me intriga: é que, às vezes, ocorre de ter alguém esperando para entrar quando o outro alguém abre a porta pra ir embora. E fica aquele impasse. Eu encosto na parede, inválida, e só observo no que aquilo vai dar. Conseguirá enfim aquela pessoa sair da casa? Conseguirá aquela outra entrar? Se a primeira sair, ela fechará a porta antes que a outra entre? Se a segunda ver a primeira saindo, ela entrará na casa para sentar ao pé da lareira ou para lhe roubar os pertences? Preciso de um cadeado, só as chaves não adiantam mais. Devo tê-las perdido pelo caminho e certamente alguém andou tirando cópias. Entrando à bel prazer, saindo da mesma maneira. Mas é estranho chegar em casa esperando encontrar alguém e ver que aquele alguém não está mais lá, que está tudo vazio e frio de novo. Sem a menor explicação do porquê de ter ido embora, sem sequer um bilhetinho na porta da geladeira ou embaixo do jarro de flores. É difícil. A gente adquire uma certa desconfiança até quando vem alguém - que bate à porta direitinho, que não tem a menor intenção de bagunçar ou roubar nada, que quer tudo conquistado, que quer conquistar o seu próprio espaço naquela casa, naquele coração – e a gente acaba batendo a porta na cara. Sem esperar. Sem acreditar. Ele foi embora. Foi embora e levou com ele o que estava no jardim, esperando a hora certa de tocar a campainha. É provável que não houvesse uma hora e, ao constatar esse detalhe, preferiu unir-se ao que saia e procurar alguma outra casa, em alguma outra rua e em algum outro bairro, preferencialmente distante daquele, quem sabe até construir alguma outra casa... para que só assim alguém batesse e não o inverso, e dessa vez a felicidade que me faltou pudesse entrar por um outro portão da frente.

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