quinta-feira, 12 de julho de 2012

To wish, to smile, to wait

Era uma quarta-feira à noite quando Luísa decidiu sair para tomar um café. Por inocência ou descaso, esquecera completamente que aquele era o dia onde os brasileiros que não tinham com o que preencher o tempo e/ou a cabeça, saiam para assistir o futebol semanal e fazer barulho nas ruas. Mal precisou chegar à esquina para ver que não tinha feito tão bom negócio quanto pensou que fizesse. Estava tranquila, de verdade. O que queria dizê-la, mais que qualquer outra sensação, que precisava pensar. E gostava do silêncio. Pra pensar, primeiramente. Lembrava-se de um vídeo científico que havia visto havia poucos dias, que, num trecho específico, dizia, em síntese, que podemos enxergar de duas formas: com os olhos, o que chamamos de visão; e com o cérebro, o que chamamos de imaginação. Aquilo se manteve em sua mente por um tempo e não saiu da sua cabeça durante toda aquela quarta. Luísa só queria sentar sozinha, na mesa do canto, tomar seu café sem açúcar, refletir um bocado e enxergar com o cérebro. Agradeceria se os apaixonados por esporte a permitissem realizar esta pequena façanha. Queria tanto que, mesmo considerando essa última análise improvável, seguiu caminho. Foi a pé, gostava de caminhar, era perto, não havia perigo. No mais, sentia-se saindo diretamente de um filme do Woody Allen, quando colocava as mãos dentro do bolso do casaco e seguia com aquele ar de mistério a algum lugar que as pessoas não seriam capazes de supor. Brincava muito com isso, consigo mesma. Talvez por ter a mania de observar demais, sempre acreditava, no fundo, que havia alguém a observando. Estava certa, algumas vezes, noutras, nem tanto. Naquele dia, ela era só mais uma pessoa nas ruas, por mais que com um propósito diferente. Quinze minutos depois, ela estava abrindo a porta do café e constatando que encontrar a paz seria mais fácil do que supôs. Sentou, abriu seu exemplar de Cartas Chilenas (livro que sempre começava, mas sempre deixava por terminar) e sorriu. Não demorou também a perceber seus pensamentos se dispersando, atravessando milhões de atmosferas e depois voltando para um mesmo lugar, o de sempre. Luísa sorria. Assustada, mas sorria. Sentia-se tão perdida na sua leitura quanto Paris Hilton se sentiria ao ler algum dos escritores malditos, então decidiu fechar o livro por ali. Logo após fazer o pedido ao garçom, decidiu que ficaria apenas onde estava, levemente encostada à parede do lado, sentindo-se abraçada pelo estabelecimento, literal e figuradamente, pensando e supondo, os dois gerúndios que mais gostava e também os mais perigosos. E continuou sentada, vendo algumas coisas com mais clareza, buscando clarear outras... nem sempre obtendo sucesso. Quando alguma de suas ideias a desconfortava, era fácil voltar àquele lugar e enxergar tudo claro de novo, como se a solução estivesse sempre à sua frente. Doíam-lhe, algumas suposições. Mas Luísa sempre foi deveras pessimista, tentava encarar os fatos e as suposições com outros olhos agora, nem sabia se era uma boa ideia, mas a estava confortando tanto, que mesmo que não fosse certo depois, só a premissa de parecer certo agora já lhe era suficiente. E então percebeu que, não era só quando pensamentos ruins lhe tomavam que ela voltava àquele lugar. Era sempre. A cada ponto final que se desse em sua mente, ela voltava para lá. Então, sorriu ainda mais, com uma sinceridade indiscutível. E continuou mexendo a colherzinha no seu café enquanto sorria e mantinha aquele semblante de paz que tão raramente era capaz de possuir. Estava contente, Luísa. Com medo e contente. Um passo por vez. Era mesmo melhor que ainda tivesse receio... A noite havia sido agradável, fizera um bom negócio em não desistir de sair de casa. Levantou e foi até o caixa. Quando terminou de pagar, o rapaz que seria o próximo a ser atendido a falou: “É um moço de sorte, ele. Dá pra ver no seu sorriso que é um moço de sorte.”. Luísa deu-lhe um sorriso de retribuição e saiu. Ao fechar a porta de vidro, que agora ficava para trás, e caminhar apressadamente de volta à sua casa, a menina pensava, incansavelmente: é um moço de sorte, ele. Dá pra ver no meu sorriso que é um moço de sorte. 

2 comentários:

  1. A narrativa é tão intensa, ao mesmo tempo suave que me senti dentro da historia...
    Parabéns menina.

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