domingo, 5 de agosto de 2012

Contrapartida

Luísa era especialmente nostálgica aos domingos. Neste domingo, fora ainda mais que nos outros. Nos últimos dias havia sido tomada por uma sensação indescritível e indiscutivelmente incômoda. Sentia-se fugindo de si, ao buscar algo que estava aquém, mas que lhe era indispensável. E doía essa ausência do desconhecido. Esta necessidade. Para ela, "precisar" sempre foi a palavra mais forte de todas, maior que qualquer amor ou qualquer ódio. Indicava dependência. Dependência a assustava. Dizia-lhe o dicionário que depender era estar subordinado, estar sujeito. Na prática era ainda pior. O que poderia ser mais preocupante que estar subordinada e sujeita a algo que não conseguia sequer descobrir o que era? Havia passado uns bons dias buscando respostas incessantemente, sem encontrar nada que lhe fosse válido. Andava em círculos. Como se a cada uma das vezes que julgasse estar perto da descoberta da sua vida, perdesse o equilíbrio e caísse exatamente do lado oposto. E achou uma razão, duas, três... nenhuma foi capaz de convencê-la. Virava doses como água, na esperança que o álcool a fizesse desfocar o pensamento, mas o efeito era inverso. Luísa esquecia de tudo, lembrava apenas do que tentava fugir: da dúvida. E esta dúvida que a consumia não tão silenciosamente quanto ela desejava, a estava destruindo vorazmente. Sentia-se letárgica. De uma morbidez que causava pena. E dentro das suas diversas horas de sono, um sonho, feito um presente, foi capaz de abrir seus olhos para tudo que a rodeava e para aquilo que rodava tanto dentro de si própria. Luísa sabia da sua aflição. Sabia de si. Mesmo que não dependesse apenas dela colocar as coisas em ordem, aquela informação causou na menina uma profunda paz. Como se aquela tempestade que imaginara pouco antes, não passasse de uma garoa que, mesmo sendo levemente irritante, seria fácil de contornar, bastava apenas focar no que importava. Aquilo era secundário. Passou dias entregue a uma dor baseada no secundário. Algo dentro dela tentava se manifestar, fosse em forma de raiva ou de calma. Mas agora tinha o controle, tomara as rédeas de novo, era toda calmaria. Bastava querer. E queria. E nada causaria em Luísa um alívio maior que ter o controle. Saber onde estava pisando era maravilhoso. De resto, continuaria a levar seus dias como uma partida de xadrez. Tentando prever as próximas três jogadas, estrategicamente traçando seu próprio destino. Nem se importava que as circunstâncias não estivessem a seu favor, ela estava, só precisava de si, só dependia de si. E era toda dela. Luísa havia voltado. Desta vez, feliz.

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