quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dark side of the Rainbow

Era daquelas meninas-sínteses, mal do século, resultado das quebradas de cara anteriores, quase genéricas no ano em que estamos. Das que muito sabem - ou fingem saber - dos outros, enquanto, de si, sabem pouco ou nada. E ela, exatamente neste molde, não sabia sequer se sabia. Mas, mesmo dentro da sua generalidade, era peculiar. Possuía duas características que lhe diferiam das demais: coragem e ousadia. E como era ousada, quando empinava o nariz e saia toda arrumadinha e independente por aí, sem precisar de ninguém nem de nada, só dos seus passinhos apressados dentro dos sapatos vermelhos. Uns fones com o Dark side of the Moon eram suficientes para a fazerem se sentir a Dorothy. E era corajosa cada vez que sentia seus problemas menores do que o que realmente eram, mesmo que alguma parte dela gritasse incansavelmente que ela não estava preparada para enfrentar nada. Estaria. Sempre estava. Minha Dorothy não era do tipo que se entregava fácil. Era do tipo que sabia que, mesmo que não resolvesse, aquela velha dose de vodka na beira da lagoa a faria se sentir melhor e boa o bastante para tentar de novo. E tentava. Também incansavelmente. E podia até se machucar a cada queda, que ainda iria se reerguer. Nem que fosse pra cair de novo. Qualquer segundo em pé já seria melhor que outro no chão. Não passaria a vida esperando alguém chegar para levantá-la, tinha pernas para isso. E recebia críticas, dos poucos que tinha. Cada um tentando, do seu modo, colocar um pouquinho de juízo na cabeça da menina inconsequente que media as consequências, paradoxalmente esperta ou ingênua. Duvidava acreditando em si. E tinha frases perfeitas, que encaixavam perfeitamente dentro de toda e qualquer história que alguma de suas amigas - também genéricas - contavam. Entendia. Já tinha doído aquilo em si. Mas, quando a dor passava, aquilo tudo parecia ter sido lido em algum lugar, as cicatrizes se esvaiam. Não tinha mais medo de arriscar, talvez por não ter nada a perder. Então aumentava o volume em Brain Damage e seguia aquela estrada de tijolos amarelos, por enquanto não tão clara quanto ela queria, mas que seria a única capaz de levá-la a algum lugar.  

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