É de uma dor que até a página em branco me apavora. A dor de
não saber ou poder expressar, de temer a incompreensão, de derrubar o dominó
que consegue levar uma muralha abaixo. Um sentimento que preenche e esvazia ao
mesmo tempo, e, achando insuficiente, ainda preenche com doses amargas de incerteza.
Revezando entre medo e amor. Mas faz tudo pulsar, sendo contraditório a cada
segundo, misturando as lágrimas de alegria às de tristeza, numa espécie de
esperança mórbida e doentia. Como se eu ansiasse por uma infelicidade que eu
mesmo levanto pra buscar, que eu faço questão de possuir, ainda quando tudo que
quero e busco é a calmaria que me foi furtada... e nem sei quando. Tampouco
como. No desespero de tentar me salvar dessa onda forte que me derrubou e
desnorteou, as águas do meu oceano privado nunca foram tão escuras, nem as
noites tão gélidas. O desespero me entorpece, de modo que não nado, mantenho-me
inerte, fico a observar se algo muda ao meu redor e se, misteriosa e
milagrosamente, eu alcanço a superfície domada pela segurança que um dia senti
em mim mesma. Foi junto da calma. Agora, sem ter ao que ou a quem recorrer, com
o coração espremido na palma da minha própria mão, fico perdida dentro desse
masoquismo de imaginar como seria se eu tivesse coragem de testar atalhos na
minha estrada. Tenho tanto medo de errar a direção que fico onde estou,
observando de longe, como se eu fosse duas, minha outra metade caminhar para o
abismo que mais consegue me fascinar.
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