terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Hurt, hide and ride

Sempre tive vontade de escrever na estrada. É clichê a comparação da nossa vida com uma viagem, mas agora, olhando pelo vidro do ônibus e com a caneta na mão, mais do que nunca, vejo que tudo se encaixa perfeitamente a mim. Tenho muitos lugares, sou de muitas casas. Todavia, é justamente o lugar nenhum que parece meu. A transição. Eu devo ter sido nômade na vida passada... Tenho passado por tantos desvios nessa vida. Esse ano foi pesado para mim como eu nunca pensei que nenhum ano seria, e eu não vinha de uns anos muito bons. Está tudo bem agora. A poeira ainda está baixando, mas eu já posso sentir meu coração abrandar. Volto a olhar para a janela e não consigo me ater a nada, tudo passa tão rápido, só o céu permanece imóvel, ou quase. E assim que eu vejo tudo, mesmo quando não estou nessa janela. Minha vida tem passado por mim como essas árvores próximas ao acostamento, mas meu céu permanece imóvel e inalcançável. Às vezes dá a impressão de que vou poder parar e observar com cautela cada detalhe. Antes que eu dê por mim, o carro já acelerou de novo e ficou pra trás. É tão doído isso, de ter que deixar pra trás. Doído e bonito. Eu não me imagino de outro jeito... Umas pessoas falam que têm mania de sofrimento, vai ver sou uma dessas. Tenho mania de deixar doer. Sempre tão à espreita, segurando o fôlego para a próxima parada e pancada. Tanto que mesmo quando a pancada não vem, minha tensão já fez de cada gota de chuva uma tempestade. E quando começa a chover, eu gosto de acelerar ainda mais. De ver passar cada vez mais rápido. Em um dos meus lares, eu iria para a varanda e deixaria a água banhar meu rosto. Noutro, eu fugiria com medo de um resfriado. Agora eu só assisto a chuva cair. Espero os dias de sol. Espero minha paz. Espero conseguir encaixar. E, ainda mais, espero chegar ao meu destino. 

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