Sempre tive vontade de escrever na estrada. É clichê a
comparação da nossa vida com uma viagem, mas agora, olhando pelo vidro do
ônibus e com a caneta na mão, mais do que nunca, vejo que tudo se encaixa perfeitamente
a mim. Tenho muitos lugares, sou de muitas casas. Todavia, é justamente o lugar
nenhum que parece meu. A transição. Eu devo ter sido nômade na vida passada...
Tenho passado por tantos desvios nessa vida. Esse ano foi pesado para mim como
eu nunca pensei que nenhum ano seria, e eu não vinha de uns anos muito bons.
Está tudo bem agora. A poeira ainda está baixando, mas eu já posso sentir meu
coração abrandar. Volto a olhar para a janela e não consigo me ater a nada,
tudo passa tão rápido, só o céu permanece imóvel, ou quase. E assim que eu vejo
tudo, mesmo quando não estou nessa janela. Minha vida tem passado por mim como
essas árvores próximas ao acostamento, mas meu céu permanece imóvel e
inalcançável. Às vezes dá a impressão de que vou poder parar e observar com
cautela cada detalhe. Antes que eu dê por mim, o carro já acelerou de novo e
ficou pra trás. É tão doído isso, de ter que deixar pra trás. Doído e bonito.
Eu não me imagino de outro jeito... Umas pessoas falam que têm mania de
sofrimento, vai ver sou uma dessas. Tenho mania de deixar doer. Sempre tão à
espreita, segurando o fôlego para a próxima parada e pancada. Tanto que mesmo
quando a pancada não vem, minha tensão já fez de cada gota de chuva uma
tempestade. E quando começa a chover, eu gosto de acelerar ainda mais. De ver
passar cada vez mais rápido. Em um dos meus lares, eu iria para a varanda e
deixaria a água banhar meu rosto. Noutro, eu fugiria com medo de um resfriado.
Agora eu só assisto a chuva cair. Espero os dias de sol. Espero minha paz.
Espero conseguir encaixar. E, ainda mais, espero chegar ao meu destino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário