quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ponha mais Sol no seu Inverno

Don't you think we can work it out tonight?

- Ela é incrível. Há meia hora que eu estou atônito e com uma expressão de encantamento no rosto, só observando-a falar. É como se fosse um romance de filme, um amor à primeira vista, um... sei lá o que.
- Ele é um idiota. Há meia hora que eu falo sem parar esperando alguma reação, e ele reage como se não me ouvisse, além do mais, ele desfoca o olhar do meu rosto para os meus seios dez vezes por minuto. Estou com uma vontade imensa de sair correndo daqui e deixar esse babaca sozinho. Se bem que, de acordo com o que observo, para ele não faria a mínima diferença.
- Ela não é como as outras. Tem um jeito interessante de por o cabelo atrás da orelha e poucos segundos depois tirá-lo de lá, como quem não sabe bem o que fazer. Fala pelos cotovelos e não me dá nem sequer o direito de responder; ela mesmo fala, ela mesmo responde. Mas é até melhor assim, acho engraçado e bonitinho, ela fala engraçado e bonitinho.
- Ele é igual aos outros. Do mesmo jeito de todos aqueles sacanas, aqueles canalhas que conhecem uma garota num quiosque de uma praia, a chamam para tomar uma água de coco e já ficam imaginando coisas erradas a respeito dela. Deprimente. Não sei por que ainda estou perdendo o meu tempo, acho que só por preguiça de ir embora.
- A cada fração de segundo que eu passo ao lado dela, eu imagino um universo de coisas que nós poderíamos fazer juntos. Voltar à praia, surfar, correr, brincar de alguma coisa ou não brincar de nada, só ficarmos um ao lado do outro sentindo o vento nos cabelos e o cheiro do mar. E tento desfazer esses pensamentos antes mesmo que ela possa perceber que eu estava pensando em algo.
- É estranho e estressante. Mais parece um monólogo! Seu rosto tem uma expressão distante e às vezes sorri, como se estivesse lembrando algo completamente aquém daquilo que acontece aqui e agora.  Dói nos meus nervos. Por que eu ainda estou aqui?
- Ao passo que o tempo vai passando, eu fico com medo de que ela se levante e simplesmente vá embora, e que nós nunca mais nos vejamos na vida. Um medo de continuar atônito até lá e não tomar a iniciativa de pedir seu telefone, de dizer que foi um prazer, de que queria vê-la de novo. Não quero que ela vá, não posso deixá-la ir.
- Meu Deus, por que ele não vai embora antes? Isso facilitaria muito a minha vida. Do jeito que sou, sairia derrubando todas as cadeiras que se pusessem à minha frente quando fosse dar o fora daqui. Sim, sou tímida e desastrada. Talvez por isso eu fale tanto quando encontro alguém, para tentar disfarçar isso. Em vão. Qualquer pessoa com mais de dois neurônios pode notar que essa minha tentativa frustrada só me deixa cada vez mais parecida com uma perturbada mental.
- Agora, é, vou pedir agora. Já está na hora de eu falar algo, mas tudo que ela diz é tão interessante e ela está tão empolgada que eu tenho vergonha de atrapalhar. É. Sou tímido e um desastre completo. Tenho certeza que vou estragar tudo assim que abrir a boca, sempre falo  a coisa errada e no momento mais inoportuno, vou continuar procurando uma maneira de falar que gostei dela.
- Estou entrando em pânico! Minha quota de frases feitas para a primeira conversa com alguém já está se acabando, e não sei como: eu estou extremamente interessada nesse rapaz. Quando falei que era tímida e desastrada, esqueci de avisar que sou louca também. Ele deve ser mais ou menos da minha idade, embora pareça mais sério e cheio de responsabilidades do que eu. Não falou praticamente nada desde que nos sentamos aqui e tem um jeito tão misterioso. São os piores, estes, os charmosos. Os que só querem ludibriar moças ingênuas como eu. Eu PRECISO ir embora.
(...)
- Mari...
- Ane. Todo mundo chama Mariana, mas é Mariane, ok?
(tá, ela conseguiu me deixar ainda mais sem jeito agora.)
- É, então, Mariane, eu devo ir, tenho trabalho daqui a pouco.
- Certinho.
(não me reconheci, senti uma vontade enorme de pedir ao Pablo que ficasse, insensatez!)
- Olha... Assim... Não me leve a mal, desculpe se for muita ousadia da minha parte, mas é que eu queria saber se você podia me passar seu telefone ou se a gente podia...
- Eu não tenho telefone.
(Caramba, por que eu não conseguia deixar com que ele terminasse ao menos uma frase?)
- Desculpa, não quis ser chato.
(Só agora eu vi que minha resposta pareceu um fora, ooooh my Gosh! Um fora implícito num cara charmoso, bonito, calado, provavelmente bem sucedido e que eu estou interessada até o último fio de cabelo. Não consigo mais entender qual dos meus pensamentos é o mais desconexo.)
- Vou embora também, você era a única coisa que me prendia aqui.
- Não sei se isso é um motivo de eu me sentir lisonjeado ou culpado...
- Não sinta nada, apenas venha comigo.
- Para onde?
- Não sei. Acho que você já deve ter notado que eu sou impulsiva. E nesse exato momento há um impulso muito forte dentro de mim, que me manda ir para qualquer lugar, desde que você vá comigo.
- Você é fantástica.
- Você é um mentiroso.
- Acho que esse impulso é contagioso.
- Então fica comigo.
- Aqui?
- Aonde você preferir.
- Então fica comigo.
- Já chamei primeiro.
- Não digo num lugar, e sim num momento.
- Hã?
- É.
- O que?
- Fica comigo pra sempre.
- Isso é uma afirmação?
- Isso é um pedido.
- A gente se conhece há no máximo uma hora.
- Eu soube que era você desde o primeiro minuto.
- Fico. 

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Indico que ouça Donavon Frankenreiter ou Jack Johnson agora, ou os dois, vai saber. :)

Até mais.

2 comentários:

  1. NUOOOOSSA! QUE COISA MAIS DOIDA!
    Das suas, uma. Ou eu enlouqueci, ou todo esse jogo de-lá-pra-cá criou um ritmo dentro de mim... É leve e no entanto me deixou tonto. Mas é uma tontura boa. Cara, gostei muito. Naquele dia você comentou que leu algo sem parar. Hoje, a vez foi minha.

    Obrigado.
    Esse texto foi um presente.
    ... hope find u.

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