sábado, 16 de outubro de 2010

KAS KAS KAS

- E aí, de quem a gente vai falar mal hoje?
                É sempre como começa, embora não se precise dessa frase inicial para se executar a ação. Justamente isso que diferencia. Em geral, quando as pessoas pretendem falar mal de outras, fazem isso de forma discreta até mesmo entre si. São as piores! Essas que enrustem sua maldade fingindo diálogos inocentes e comentários ao acaso. Nós não, somos autênticos. Corrigindo: autênticos e muitíssimo mal intencionados depois das dez da noite.
- Sinto que ao chegar em casa irei observar o eclipse lunar.
                Eis o ápice da crueldade humana! Codificar o falatório para que este possa ser mencionado diante às vítimas. Pobres vítimas, ainda usam do diminutivo e ainda mantêm sorrisos largos ao nos dirigir as palavras. Merecem.  Já que não somos como os piores e não escondemos, de fato, o que falamos. Se as vítimas são burras ou lentas, a culpa já não é nossa. Deviam nos agradecer por ainda falarmos na frente, mesmo que por códigos. Para bom entendedor meia palavra deveria bastar, nunca se sabe...
- Você é uma tábua de fojo.
                Daí que surge toda a teoria e todos os questionamentos possíveis. Antes de qualquer coisa eu reflito com os meus botões: não seriam as mulheres que adquiriram a fama por gostar de falarem umas das outras? Andando com meninos, a vida me ensinou que nem sempre as coisas são como no papel. Na prática, não há nada melhor do que quatro amigos de línguas afiadas para tricotar a vida alheia.
- Tábua de fojo?
                O melhor de tudo é o orgulho. A felicidade estampada na cara por ser reconhecida “regionalmente” pela falsidade. Dá até vontade de rir só de imaginar que situação contraditória, para não dizer cômica. Já que entre si, provamos o quão sinceros um com o outro somos.
- Você não sabe o que é uma tábua de fojo?
                Explicações impagáveis. E eu definirei para vocês, meus queridos leitores que também desconhecem o termo, o que seria uma tábua de fojo. Nossa região é repleta de animais não tão famosos em outros locais, muito embora o animal em questão exista em toda a América Latina. Qual seria o animal? O preá.
- Sabe um rato? É só quando o rato passar alguém cortar o rabo: ta aí o preá.*
- Não, não, não, não, não! Ficou louco? O preá é a miniatura de uma capivara.**
- Vocês não sabem é de nada, o rato tem o focinho muito alongado, não é um preá. (ou seria o inverso, meninos?) ***
                Dando continuidade à história. Segundo o Wikipédia, é aparentado do porquinho da índia, na íntegra:
O preá  é um roedor de ampla distribuição na América do Sul, do gênero Cavia, família dos caviídeos. Mede cerca de 25 cm de comprimento. Possuem pelagem cinzenta, corpo robusto, patas e orelhas curtas, incisivos brancos e cauda ausente. Também é conhecido pelo nome de bengo. É aparentado com o porquinho-da-índia.
                Deixando o Préa, peça fundamental, de lado por um tempo, temos que a tábua de fojo é uma espécie de armadilha utilizada no Nordeste para prender esses pequenos roedores. Consiste em um buraco na terra, onde se é posto uma lata de querosene ou óleo e sob esta lata vão colocar um pedaço de tábua estrategicamente posicionada. Quando o animal passar distraído por cima da tábua, cairá dentro da lata e a tábua cobrirá sua passagem, impossibilitando a saída. Em resumo: a tábua de fojo é um caminho falso que  ludibria animais inocentes.
                O que seria mais cruel, além de codificar conversas, do que enganar pessoas inocentes a acreditar na sua própria inocência? Acredito que nada. E acabo de me recordar que sim, há algo ainda mais doentio do que isso, o que seria? Se orgulhar da própria falsidade e fazer disso assunto posto em pauta nas saídas das sextas à noite.
                Finalizo dizendo apenas uma coisa: sou fã de vocês, estão me ensinando direitinho a não prestar, minhas fontes inspiradoras. Parabéns! 

Referências:
* E., Kaz.
** DA VAN, T.
*** MANOBRADO, N.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. muito bom...! muito bom mesmo...!
    contudo temos de exclarecer que com relação a fontes expiradoras a recíproca pode ser verdadeira rsrsrsrsr! você é ótima...!

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  3. Eu que sou da "turma do bem" sofro, é dificil ser inocente naquela van.

    Só pra constar, a tábua de fojo não necessáriamente precisa ter uma lata, nas redondezas do meu lugar, basta um buraco no caminho do preá, com a maldita tábua. O final dos pobres infelizes, todos sabem, panela!

    No mais, belo texto, citações perfeitas.

    Abraços,

    Manoel 'Juninho' Martins

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