sábado, 18 de dezembro de 2010

Quem está no fogo está para se queimar, então para que chorar?

            Mas eu não estava no fogo e talvez seja por isso que isso aqui dentro dói tanto. Tanto e tão intensamente, que me faz chorar. Essas lágrimas que têm saído como a correnteza forte de um rio ardem quando escoam pelo meu rosto. Um ardor estranho, que eu não sei se vem de dentro ou de fora. Que não consigo discernir se é da acidez da sua composição ou a da acidez dos meus sentimentos e de tudo que pulsa aqui dentro. Eu tento aceitar, esquecer, seguir adiante sem que nada banal faça com que eu fique abatida... Não adianta. Como se minhas vontades já nem importassem mais ou eu nem tivesse vontades. Então vem de novo aquele soco, que me derruba no chão e me faz passar horas abraçada com as minhas pernas, no intuito de amenizar a dor. E você sabe que quando a gente cai, e as pessoas que nós tentamos mostrar o tempo inteiro o quão capazes somos de caminhar sozinhos nos vêem cair, é quando aquilo mais machuca. Quando não conseguimos mais agüentar e desabamos no choro, ficamos à mercê da opinião alheia e nos sentimos como verdadeiros lixos humanos.      Que se vê que depois daquilo, a única saída é tentar recomeçar. Recomeçar é tão difícil para pessoas como eu. Gente que não tinha outro intuito na vida a não ser mostrar que era capaz de caminhar a alguns e cai. Um recomeço exige de mim bem mais do que eu posso oferecer. Mas eu tento. Por mais que eu quebre a cara outra vez. Por mais que eu saiba que não dá para ir adiante, que ainda não me recuperei do soco, nem da queda, eu tento.
            Não. Essa tentativa eu não faço por mim, mas por eles. Eu quero que eles ainda se orgulhem de mim, quando eu andar lindamente e todos me aplaudirem. Contudo, eu só tenho levado sucessivos socos e quedas, incontáveis, os envergonhando. Envergonhando aqueles que acreditaram e depositaram todas as suas fichas em mim. Eu tento, tento todos os dias acertar de algum modo, só que isso foge das minhas mãos, cai feito areia entre os meus dedos e eu não consigo apanhar, deixar tudo lá de novo. Sou incompetente. Triste admitir. Contudo, eu sou incompetente. Desconfio seriamente que essa seja a minha função no mundo: decepcionar os que amo e fazer com que os outros tenham alguma palhaça para os fazerem rir.    E esse texto, que mais deveria ser uma carta e não narra nenhuma novidade, não passa de um pedido desesperado de perdão. Perdão por eu sempre conseguir, de um jeito ou de outro, decepcionar vocês dois, que no fundo são as únicas duas pessoas que importam para mim. Desculpem-me também por eu ser covarde e não dizer-lhes isso cara à cara, é que foge do meu domínio, eu não sei bem o que é.  Eu queria muito. Eu quero muito fazer com que vocês se orgulhem de mim. Que vocês sintam-se bem e felizes por poderem olhar para o que eu sou hoje e ver que foram vocês que construíram isso. Mas vocês não podem. Por mais que digam que sim, não é segredo para ninguém que não. Tudo que eu me tornei foi uma menina problemática, paranóica e que consegue fazer tudo que está certo, se tornar errado, criar tempestades em copo de água e passar dias chorando escondida no banheiro por não ser a filha que vocês pediram a Deus. A culpa não é de vocês. É algo intrínseco à minha pessoa. E de acordo com o andar da carruagem, eu queria que vocês desistissem de mim. Que vissem que eu nunca vou ser a pessoa que eu queria ser, que vocês queriam que eu fosse. Que eu não sei ser carinhosa, amorosa, afável, porque eu não sou isso. Eu não vou conseguir nunca ser a mais bem sucedida ou a pessoa com quem vocês podem contar, porque ultrapassa os meus limites ter competência para tal. Eu daria minha vida pra ser a menininha que vocês idealizaram. Eu daria tudo o que sou, o pouco que sou, para ter a certeza que ao menos por um dia vocês foram dormir de consciência tranqüila e com a sensação de dever cumprido por me verem passar no corredor, apenas. Minhas tentativas mais sinceras e frustradas. Meu amor mais sincero e retribuído. E mais uma vez, perdoem-me por eu ser essa menina suja, eu juro que não foi opcional.

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