quarta-feira, 27 de junho de 2012

Alte liebe rostet nicht

Entra, senta aqui, vamos conversar. Não desiste de mim. Desculpa, acho que fui meio rápida demais na frase que antecedeu esta, deixa eu tentar recomeçar. Não quero deixar você assustado. Vem, senta aqui do meu lado, vamos tentar esclarecer tudo isso, toca na minha mão, vamos tentar deixar as coisas claras como esquecemos de deixar mais cedo. Eu me importo contigo, eu me importo com a gente. Eu queria fazer isso da forma mais saudável, mais bonita, eu queria fazer isso dar certo. Eu queria deixar de lado tudo que me amedrontou no começo, esquecer mesmo, não solta minha mão, não olha pra baixo, olha no meu olho. Tenta me entender, tenta me respeitar. Vamos analisar juntos se nossa relação é mesmo bilateral, cansei de notar que nós vivíamos em tempos diferentes. Às vezes eu não estava pra você, e de repente eu estava, mas você não estava mais. E doía, sabe? Não quero que isso se repita. Não quero ter que repetir isso outra vez, já falei tantas.  Fico tão preocupada, com tanto medo de não saber expressar o que quero. Sei que essa nossa conversa vai ser decisiva, porque olha, essa é tua última chance. Desculpa, não quero parecer estar te pressionando, embora até eu agora ache que eu esteja, enfim... É que realmente não sei lidar com tudo isso, sou meio esquisita, você sabe. Os tempos são difíceis ainda, mas se a gente se gosta, por que não tentar? Nós merecemos outra chance, não merecemos? Eu quero te dar outra oportunidade de fazer isso da maneira decente. Quero me dar outra oportunidade de sorrir ao ver teu sorriso de menino e teus olhos meio perdidos, meio vagos, meio de quem não sabe pra onde olhar, mas sabe que não deve olhar pra mim naquela hora, porque tá inseguro e não quer me passar insegurança. E eu quero que nós dois nos sintamos seguros. Quero que nós dois deixemos todas as incertezas que temos acerca um do outro de lado agora, ou então que a gente se deixe de vez. Sei que estar com alguém não é algo que precise de nenhum contrato, mas eu tenho algumas condições, alguns termos que gostaria de esclarecer logo, e pra que seja verdadeiro de verdade (perdoe-me a redundância, fez-se necessária), eu apreciaria muito saber se tu estás de acordo. Quando eu falo em estar de acordo, não entenda como um contrato de adesão, estes termos não são os que eu ponho à frente de cada relacionamento meu, são restritos, são seus, são tão pertinentes a nós que chego a me questionar por qual razão não os bolei antes. Lá venho eu, assustando-te novamente. Desculpa. Desculpa também por eu não conseguir parar de me desculpar, é que tenho tanta mágoa, tenho ainda tanto receio, mas  deixa. Eu vou deixar também. É frescura minha, sou muito mulherzinha. Embora não pareça. Sabe também que acho que não deixei as coisas aparecerem da forma que deveria... Parecia tão errado, não tinha como eu evitar de me sentir insegura. Sei que segurança é fundamental pra você. Embora seja tão instável quanto eu, só não tenha a mesma ousadia que eu tenho em assumir isso. Não foi uma afronta, não quis te atacar. Pelo contrário, embora eu me expresse demasiadamente áspera, por vezes, tudo que menos quero é chegar atirando pedras. Não tenho só o teto de vidro, sou quase uma estufa, difícil vai ser encontrar um lugar em mim que não quebre. Prometo tentar me blindar, ou ao menos ser o mais resistente possível pra que isso dê certo. Queria simplificar tudo, não queria tecer um monólogo. Vem cá, segura a minha mão, por favor, eu preciso desse contato físico pra ter a certeza de que você ainda tá aqui. Seria tão mais simples jogar os termos que falei anteriormente na tua cara e esperar pra ouvir os teus e assinar embaixo, sem discutir, sem modificar o combinado. Sei que não é fácil, nunca foi. Eu fico tentando ser paciente agora, tenho medo que minha ansiedade inquestionável tenho sido peça integrante e a base dos erros anteriores. Não vou resumir nada, é. Vou falar minuciosamente que te gosto, sem me preocupar se você vai acreditar ou não. É tudo que tenho, minha palavra, lembra? Eu preciso de você. Pra contar que as coisas vão bem, pra assistir aquele filme deitada sobre tuas costas e pra acordar de conchinha na manhã seguinte. Preciso de você pra acreditar, junto de mim, que só foram tempos difíceis, mas que as coisas podem dar certo. Preciso de você pra me fazer acreditar que nem todo homem é canalha. Preciso de sanidade mental, preciso de discernimento pra conseguir lidar com tudo isso antes de ficar louca, se é que já não estou. Preciso que você perdoe meus erros para que possamos começar isso da forma correta, preciso conseguir te perdoar também, mas eu sei que consigo. Por que a gente tem que se preocupar um com o outro em segredo? Preciso que você faça por onde merecer minha entrega. Eu planejo tanto, você nem sabe. Desculpa, não quero te encher com isso, sei que a essa altura do campeonato você já deve tá cansado de me ouvir e com uma vontade danada de apoiar a cabeça nesse sofá e tirar um cochilo antes de eu terminar, mas me ouve, só dessa vez. Ouço discos inteiros pensando na gente, penso o quanto seria bom ter o direito de nos identificar em algumas letras, penso também o quanto seria bom poder ouvir algumas delas contigo. Penso até se você repararia no mesmo que eu, gostaria do mesmo trecho, preferiria a melodia à voz, ou vice-versa. Penso em ti, sabe? Penso no que poderia ser. E quando a gente dá esses nossos surtos de se fechar e parece que já nem lembro de você, só parece. Porque eu fico, cá com meus botões, lembrando até com uma vitrine que vejo na rua, vendo teu rosto em cada gota d'água dessa chuva. Uma vontade enorme de caber inteira no teu abraço. Sinto falta de cada coisa que a gente não viveu. Nem precisava que essa nossa história fosse eterna, só precisava que ela não enferrujasse com a chuva em que eu te vejo, nem com a maresia... Porque, olha, eu queria tanto deitar na areia da praia contigo e contar as estrelas e viajar juntinho e que você me esquentasse quando eu estivesse com frio e continuasse me esquentando mesmo quando já estivesse quente. Eu queria tanta coisa, poxa. Mas agora eu só queria que a gente se acertasse. Juro pra ti, fico feliz se a gente só se acertar. Em definitivo. Ou para um não, ou para um sim. Deixar dessas pendências. Isso mata uma parte de mim que eu gosto, fico incomodada em perder justo esta parte. E te gosto, também. Tanto quanto esta parte. Será que essa parte é você ou será que essa parte é sua? Se for pensar bem, prezando pela sinceridade e clareza - estão nos termos, depois dá uma lida - na nossa relação, acho que é melhor eu abrir os olhos e me conformar que essa parte não é sua. Eu queria que fosse. Queria que você quisesse que fosse. Vê do que eu falo? Você me desconcerta tanto que nem sei organizar meus pensamentos de uma forma satisfatória e me volta aquela dúvida: "Deus do céu, será que este homem entende o que quero falar e em que situações eu me meto por gostar tanto dele?". E tenho tantas outras pendências, tantas outras dúvidas que deixei que descessem garganta abaixo sem me permitir discernir o sabor que tinham quando me passaram à boca. Um medo de que o que é castelo de pedra pra mim seja castelo de areia pra você. Não se preocupa, eu sempre tive esse medo, não é inédito. O único fato inédito é eu ter tido a coragem de te ligar pra tu vires aqui e eu te falar cara à cara tudo que eu estou te falando. Você nunca esteve na minha vida como eu queria que você tivesse estado, é tão confuso. Há tanto tempo eu penso nisso. Há tanto tempo eu penso em nós. Por isso eu fico assustada e por isso continuo achando que só te assusto. Não sei se cabe falar mais nada, não sei se algo do que falei tem sentido. Nem sei se tem sentido eu chegar e vomitar esse monte de informação de uma vez, por mais que no fim das contas tudo que eu tenha dito se resuma em tão poucas palavras e em tanto querer, tanto importar. Continuo em corda bamba. Você continua segurando minha mão. Não me deixe cair. Puxe-me. Seja pra perto de ti ou pra perto do chão. Deixa eu torcer em silêncio, ou nem tanto, pra que seja pro teu lado. Abrace-me uma ou duas vezes antes de me deixar ir embora. É isso. 

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