sexta-feira, 15 de junho de 2012

So many for us

Luísa estava abraçada com sua almofadinha de coração, deitada em posição fetal, com o rosto vermelho escarlate e completamente molhado de lágrimas. Fingir que ia tudo bem arrancava diariamente uma parte dela. O sangue não estancava. Não havia nenhuma anestesia que diminuísse nela a sensação de estar se destruindo e furtando de si própria a chance de fazer as coisas da forma certa. O risco era tão alto que não sabia se tinha condições de arcar com as consequências. Então, no fim do dia, ela se jogava no sofá com a sensação de estar adiando sua vida. Sentia os olhos marejarem, buscava o pouco de auto-controle que ainda lhe restava, levantava e ia preparar um café para tomar enquanto trocava freneticamente os canais da tv. Como ela queria conseguir tomar uma decisão. Sair da inércia. E, naquele dia, tudo que Luísa conseguiu foi ficar pior que nos demais. Ao abrir a porta e se deparar com aquele corredor vazio, sentiu seu corpo gelar, como se o sangue fugisse, e de repente só o seu rosto estivesse quente. Jogou o chaveiro em cima da mesa da sala e ao entrar no quarto se atirou sobre aquela almofada, como se a apertando forte, ela conseguisse que as coisas dentro dela não se dispersassem ainda mais. Apertando forte, talvez tudo fosse continuar imóvel ali. Mas perdia um pouco de si a cada fração de segundo que não tomava uma decisão. E como queria adormecer e acordar com tudo diferente. Adormecer, pela primeira vez, sem passar horas ponderando como ela vai sofrer menos. Se vale o risco. Como vai ser se não valer o risco. Voltaria ela à estaca zero?  Uma grande perda não nos levava à estaca zero, mas sim nos leva a buscar enlouquecidamente algum tipo de estabilidade. E ela tinha alguma estabilidade agora, teoricamente. Estava tudo tão bagunçado e dolorido e talvez mais instável do que nunca. Porém, estava aparentemente calmo. E essa aparente calmaria a servia de consolo, vez ou outra. Tinha o controle de algo. Ter o controle não significava muita coisa. Talvez, se ela perdesse o controle, as coisas se acertassem. Mas se não? Se não ela estaria mais perdida e impotente que nunca. Como Luísa queria ser corajosa pra enfrentar as coisas cara à cara. Como Luísa queria fugir dos significados nas entrelinhas. E sonhava... tanto. Acordava doendo mais. Existiam tantos mundos preparados para tudo que ela queria viver, embora todos imperfeitos, poderia ser ideal. Ainda assim, poderia. Enquanto Luísa continuasse sendo uma covarde fugindo de tudo que queria por medo, aquela agonia persistiria, era sua única certeza. Luísa precisava soltar aquela almofada, levantar da cama, lavar aquele rosto, tomar seu café enquanto fazia uma ligação marcando um outro café. Precisava apenas disso: de dez minutos, coragem e uma conversa franca, olho no olho.  Até lá, ela se escondia ainda mais no seu casulo, torcia para que o mundo se refizesse e as coisas aparecessem cada uma no seu devido lugar. Era utopia, mas era tudo que tinha pra hoje. 

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