Não pense que é descaso ou que eu
sou uma louca que não decidiu se é sensível ou insensível demais. Mas é que eu
tenho corrido tanto e os dias têm estado tão bagunçados. Eu também acabei me
bagunçando nos últimos meses, e vai ver que aquela história de virginianos
perfeccionistas e cheios de manias seja verdade. É verdade também que eu não
queria te deixar confuso, que eu queria te passar minhas certezas por osmose e
queria que você entendesse o pedido de desculpa quando eu olho pra baixo por
dois segundos e depois volto a olhar nos teus olhos. Queria que você me
perdoasse, também, pela quantidade incontável e assustadora de erros que
cometi. É que está apaixonada é a melhor e pior coisa do mundo ao mesmo tempo,
talvez por isso eu goste tanto, talvez por isso eu não saiba o que fazer. Extremista
de carteirinha, não consigo criar dentro de mim um meio termo que te passe
segurança. Não consigo que passe pela minha garganta esse amontoado de palavras
que agora te escrevo. Ou falo demais, ou não falo nada. E, cara, depois de
tudo, eu tenho optado por não pecar pelo excesso. Tenta me entender,
passaram-se quatro anos desde a última vez que abri meu coração, e nunca vou me
esquecer de algo que te disse naquela tarde: “confia em mim, vou ser uma mulher
bem resolvida antes dos vinte”. Ta aí. Hoje, às portas dos 23, peço a Deus para
que você não tenha confiado, porque eu confiei e quebrei a cara. Não quero
perder minha credibilidade. É que isso de reencontro e, poxa, logo agora,
quando eu me sinto tão inconsistente, eu fico com medo de dar algum passo e
acabar botando tudo a perder, como eu julguei ter botado quatro anos atrás. Mas
permaneceu, sabe? Acho que ficou no meu travesseiro, porque sempre lembrava de
você quando deitava pra dormir. Todas as noites, sem exceção. E sendo bem
sincera: eu te parabenizo por ter sabido lidar comigo melhor do que eu mesma
pude. Você me conhece, sabe que eu sou problema. Mas também sabe que eu sou
amor. Então, espera? Dê-me mais cinco minutos até eu decidir o que faço com a
minha vida nos próximos cinco anos.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
sábado, 6 de dezembro de 2014
I'll let you love me
Não tem problema, vai por mim. Entre os meus tantos
defeitos, tenho a qualidade de ser sincera, eu não diria que tá tudo bem se não
estivesse. Minha mente tá tranquila, eu tô em paz. Mas é que eu tenho esse meu
jeito meio agitado e meio parado demais, e isso às vezes acaba confundindo as
pessoas. Ouve o que eu te digo: é tudo verdade. É verdade que eu te dou aval
para tudo. Você pode me acordar no meio da noite com um telefonema, ou
interfonando dizendo que vai subir. Não tem problema, se você não tiver
problema com minha voz e cara de sono, nem com o meu pijama velho de quem não
sabia que ia receber visita. Você pode me falar dos teus problemas e de como
vai tudo errado e daquela briga que pegou com o seu chefe. Você pode beber
demais, me falar coisas sem tanto sentido e que vai se arrepender no outro dia,
eu te prometo que – no máximo – só vai me render umas boas risadas. Pode me
apresentar aos teus amigos e tios chatos, pode escolher o nome do nosso
primeiro filho. Entende meu jeito, é o que eu peço. Eu te dou aval para ir
naquela choppada da turma sem mim, justo no final de semana que eu estiver
fora. Eu te dou aval para não gostar dos mesmos livros e discos que eu (exceto
o Dark side of the moon). Eu te dou aval para não querer ir ao cinema e até
para reclamar do meu café. Mas, por favor, não me transforma em outra menina
chorando sozinha numa cafeteria enquanto come uma torta de chocolate. Seja verdade.
Eu te dou todo o aval do mundo para me fazer feliz.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Hurt, hide and ride
Sempre tive vontade de escrever na estrada. É clichê a
comparação da nossa vida com uma viagem, mas agora, olhando pelo vidro do
ônibus e com a caneta na mão, mais do que nunca, vejo que tudo se encaixa perfeitamente
a mim. Tenho muitos lugares, sou de muitas casas. Todavia, é justamente o lugar
nenhum que parece meu. A transição. Eu devo ter sido nômade na vida passada...
Tenho passado por tantos desvios nessa vida. Esse ano foi pesado para mim como
eu nunca pensei que nenhum ano seria, e eu não vinha de uns anos muito bons.
Está tudo bem agora. A poeira ainda está baixando, mas eu já posso sentir meu
coração abrandar. Volto a olhar para a janela e não consigo me ater a nada,
tudo passa tão rápido, só o céu permanece imóvel, ou quase. E assim que eu vejo
tudo, mesmo quando não estou nessa janela. Minha vida tem passado por mim como
essas árvores próximas ao acostamento, mas meu céu permanece imóvel e
inalcançável. Às vezes dá a impressão de que vou poder parar e observar com
cautela cada detalhe. Antes que eu dê por mim, o carro já acelerou de novo e
ficou pra trás. É tão doído isso, de ter que deixar pra trás. Doído e bonito.
Eu não me imagino de outro jeito... Umas pessoas falam que têm mania de
sofrimento, vai ver sou uma dessas. Tenho mania de deixar doer. Sempre tão à
espreita, segurando o fôlego para a próxima parada e pancada. Tanto que mesmo
quando a pancada não vem, minha tensão já fez de cada gota de chuva uma
tempestade. E quando começa a chover, eu gosto de acelerar ainda mais. De ver
passar cada vez mais rápido. Em um dos meus lares, eu iria para a varanda e
deixaria a água banhar meu rosto. Noutro, eu fugiria com medo de um resfriado.
Agora eu só assisto a chuva cair. Espero os dias de sol. Espero minha paz.
Espero conseguir encaixar. E, ainda mais, espero chegar ao meu destino.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Ah, se eu pudesse entender o que dizem seus olhos
Não adianta. Você pode ser frio, indiferente, despreocupado, despretensioso, desinteressado, autossuficiente, sentir-se totalmente independente e descompromissado, mas sempre haverá alguém que vai conseguir tirar você do sério. Arrancar tua sensatez com um sorriso. E te desnudar até mesmo com um olhar rápido. Sempre tive essa mania boba de achar que era inabalável. Foi aí que o risco surgiu. Quando a gente acha que já viu de tudo e já conheceu todo tipo de pessoa, aparece justo aquela que você não decifraria nem com a melhor das enciclopédias. Era tudo desafio, e eu sempre gostei de ser desafiada. Naquela manhã o trânsito estava ainda pior que nos outros dias. Demorei a chegar em casa, não devia sequer ter dormido fora. Subi a escada com meus passos rápidos de quem sabe que é tarde demais e nunca acredita que é tarde demais. Abri a porta sem conseguir pensar noutra coisa. A cabeça a mil. Inundada pela sensação desesperadora de não saber definir o que se sente. Deixei um pedaço meu naquela casa, isso eu sabia. Peguei o celular e vi a quantidade assombrosa de chamadas perdidas, continuei ali: pensando e com um sorriso no rosto, daqueles sorrisos que você dá quando percebe que tá perdido e não faz questão de se reencontrar. O rapaz... Ah, o rapaz tinha um jeito manso, feito protagonista de filme francês. Era tudo que eu conhecia dele. E a história? Não tinha história. Tinha ele, tinha eu, e só. Aquilo me consumia desde o primeiro momento. Eu não sabia o que esperar. Eu até hoje não sei se devo esperar alguma coisa. Porém, eu não consigo fugir. Até consigo, mas não quero. Eu adio para amanhã, depois de amanhã, semana que vem. Nesse meio tempo, gosto de te esperar chegar. Gosto de olhar teu perfil desse ângulo da cama. E fingir que entre eu e você existe um "nós".
sábado, 26 de julho de 2014
Grandpa. Endless love.
Falam. Mesmo sem saber, ainda assim. Não me surpreendo,
nunca foi diferente. Pelo contrário. Mas não condiz em absolutamente nada.
Querer estar perto e poder estar perto, infelizmente, não são ações que sempre
podem estar interligadas. Mas estou perto, ainda sem estar. Ainda quando não
pareço estar. Posso até dificilmente parecer, mas eu sempre me importo. Costumo
até mesmo dizer que é uma das minhas melhores qualidades, o que mais me faz
humana, o se importar. Especialmente assim, em demasia. E se pareço não me
preocupar, eu me desculpo. Não sou boa em deixar as palavras saírem, a voz
corta, a fala treme. Mas o amor que eu sinto não é em nada abalado, não é em
nada pequeno. Nunca sequer chegou a oscilar. É maior e indiscutível. Sempre me
lembra o céu. Assim como os seus olhos. O azul mais lindo de todos. Nem o céu
da manhã mais bonita terá um azul tão intenso quanto o dos teus olhos. E te
amo. Até quando não parece. Perdoa por eu não deixar parecer.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Love songs
Era tudo canção. Começava numa melodia doce, que condizia
com aqueles passinhos apressados da moça, mesmo sabendo que ainda era cedo e
que sua pressa de nada adiantava. E era tudo doçura. Como um clássico da bossa
nova que deveria ter existido e não existiu porque ninguém presenciou aquele
momento. Como se nunca houvesse havido um verdadeiro bom filme, já que nenhum
narrava aquela história. Acho que a doçura se dava justamente pela simplicidade
da situação. Em poucos minutos já havia chegado a seu destino. Sentou ali, seu
vestido florido nos joelhos, conferindo o relógio a cada dois minutos e agora a
bossa nova era substituída por um solo de rock clássico, daqueles extensos e
sublimes, e a música parou no exato momento em que botou os olhos no rapaz. Com
as mãos geladas e o coração batendo mais forte que qualquer bateria, ela não
saberia dizer a expressão facial que lhe dominava. Ela riria se a visse quase
correndo para cair naquele abraço. De repente a melodia doce voltava e era tudo
amor. Cada detalhe era amor. Cada detalhe era canção. Todas, de todos os tipos.
Da orquestra sinfônica ao violão à beira mar. Do maior dos bregas ao mais
pesado rock’n roll. E aquele abraço... Qualquer um que passasse na rua e visse
aquele abraço iria sentir inveja de não ter um amor assim. Um que enche a
cidade de som e de cor. De repente era tudo verde, o céu mais azul, as flores
do vestido pareciam se multiplicar, era como se todos os dias fossem uma manhã
de domingo. E foi feliz como nunca pensou que seria. A cada reencontro era
feliz como nunca havia pensado que seria. Sairam de mãos dadas e cada instante
parecia ensaiado. Como uma coreografia outrora planejada. Confesso que eu,
amarga que sou, por um tempo fiquei observando de longe e pensando que aquilo
não tinha como ser real, se até eu ouvia a música. Se até eu tinha vontade de
levantar e dançar também. Meu devaneio foi interrompido pelo toque do meu
celular. Era ele. Queria avisar que fez boa viagem. Dei um riso solto quando
percebi que o que via não passava de uma lembrança daquele encontro, que a
menina de vestido era eu, que o rapaz do outro lado da linha era o que fazia
cada palavra virar poema e que eu ainda não havia ido embora desde que falei
aquele “volte logo”. Mais que um convite, uma súplica, mais que uma súplica, a
letra da música que não para de tocar aqui dentro.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Dia-a-dia, lado a lado
Abri os olhos devagar e vi que já havia amanhecido.
Permaneci imóvel. O braço por cima da tua cintura, um esboço de sorriso nos
lábios e a vontade de estar ali, só estar ali, sem precisar me mexer, sem
precisar que você se mexesse, só estar ali e que aquele instante também não
saísse dali, ficasse tão preso e imóvel naquela epifania quanto eu. Engraçado
até, depois de tanto tempo, depois de tanta coisa, considerar algo que um dia
já foi tão costumeiro como uma epifania. Mas havia uma clareza que enchia o
ambiente de paz e me enchia da mais verdadeira felicidade: a simples. Daquelas
sem delongas, daquelas que dominam a gente sem que nada especial precise ter
acontecido, uma satisfação crônica consigo e com o mundo, como se eu fosse tão
maior que meus problemas e nada pudesse me abalar. E nada podia, sabe? Eu
estava exatamente onde eu queria estar, no meu lugar. Sem a cabeça cheia de
minhocas que tanto tinha me mantido inconstante. Agora era como se aquela
cortina branca balançando na janela e até o jarrinho de flores que eu esquecia
sempre de aguar estivessem me saudando por ter acordado em mais um dia lindo. E
eu queria ter sempre dias lindos, eu queria ter sempre o peito assim, tão cheio
e tão leve. Mas aí eu abri os olhos devagar e vi que ainda era madrugada, que
meu braço tava caindo da borda da cama, minha cabeça ainda pulsava de
enxaqueca, e todas as lembranças me saudavam. Não era a cortina da janela,
tampouco o jarro de flor. As flores já tinham morrido, a janela não era aberta
há dias e não havia mais ninguém. Só eu, um punhado de coisa ruim na bagagem e
a fé na mudança. Rala, escassa, mas ainda ali. Exatamente ali. Olhando pra mim,
da mesma forma que eu pensei estar olhando pra você.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
De volta aos palcos
No dia do meu aniversário de nove anos, eu recebi um presente que se tornou meu xodó por meses. Não era nada demais, só uma caixinha de música que sempre que eu levantava a tampa, uma bailarina saia e dançava uma melodia barata. A contar daquele dia, a primeira coisa que eu fazia ao acordar sempre era ver a minha bailarina dançando. E, um dia, depois de eu me adaptar e inserir esse espetáculo à minha rotina, eu sem querer bati a tampinha da caixa de música forte demais e quebrei a perna da minha nova amiga. Criança e chorona desde sempre, fiquei mal vários dias. Minha mãe comprou outra caixa de música pra mim, mas mesmo com toda a boa intenção dela, não tinha o mesmo valor, porque não era a minha bailarina, só uma substituta. O tempo passou e eu deixei aquilo de lado, até hoje. Passados poucos dias do meu aniversário de 21, eis que me encontrei num momento de nostalgia e vontade de fazer as coisas mudarem. Nem lembrava mais do meu brinquedo favorito, mas revirando as velharias na despensa, a caixinha estava lá, junto da bailarina e sua perna quebrada. Eu a colei. Eu a vi dançando de novo, ainda que com o som meio enferrujado da sua casa velha. Minha bailarina dançava com a mesma graça de sempre, por mais que agora tivesse um remendo pouco sutil. Sabe, aquilo foi quase uma epifania, vê-la ali, 12 anos depois. Arrancou meu primeiro sorriso sincero em dias, trouxe de volta um sentimento de aconchego que eu não sentia há um bom tempo. O fato de a minha bailarina dançar de novo depois de tanto tempo, fez-me perceber que eu também posso continuar a dançar, eu nunca quebrei uma perna. Mesmo com toda a bagunça, com todo problema e toda tristeza, minhas duas pernas estão inteiras e eu tenho a vantagem de não precisar que ninguém abra a caixinha para eu poder dançar. O mundo sempre esteve aberto pra mim, minhas pernas sempre estiveram em perfeito estado e já passou da hora de eu começar o meu balé.
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