Eis que volto a escrever, e pelo motivo mais especial de todos. Volto a escrever porque, depois de muito tempo, sinto a necessidade de expor uma importância que qualquer pessoa que tenha conversado mais de dez minutos comigo sabe que existe. Porque hoje, desenfreadamente, eu sinto a necessidade de ratificar todo o meu maior amor. Não é a primeira vez que te escrevo, embora não tenha lembrança de ter te mostrado algo que fiz tendo você como destinatário. E isso me leva a tanta coisa... Isso me leva a pensar o quanto por vezes eu posso parecer uma filha ausente ou indiferente, ainda que não seja. Hoje sinto meu coração do tamanho de uma semente e apertado como se a qualquer momento fosse parar, e percebo que a razão disso é justamente o medo que tenho de te magoar. Ainda quando tudo na minha vida parece errado, uma ligação preocupada sua é o suficiente para me lembrar o quanto eu sou amada. O quanto, mesmo dentro da maior das desventuras, eu nunca deveria abrir a boca para reclamar de nada. E reclamo tanto, com tanta frequência... Talvez seja isso o que me leve a querer te mostrar hoje o quanto eu não conseguiria viver num mundo em que você não existisse, e que eu entro nessas minhas crises unicamente porque me tranco no meu universo particular e acabo excluindo todo mundo, mesmo você. Então eu te puxo de volta, tento te reincluir mesmo nesse mundo só meu, mesmo sem dizer palavra alguma e mesmo dizendo que tá tudo bem quando você abre a porta do quarto perguntando se há algo errado. E pode haver, mas se esvai se há você por perto. E eu te queria por perto sempre, todo dia, pra toda a vida. Porque você é minha fortaleza, porque você é a certeza de que eu consigo qualquer coisa, mesmo que eu precise virar o mundo ao avesso pra isso. Você me motiva a tentar e a conseguir, porque eu sei que cada vitória minha é ainda mais sua. Que cada passo que eu dou na minha vida é um passo ainda maior que você dá na sua. E te orgulhar é a coisa que mais me aproxima da plenitude. Cada sorriso seu, independentemente de ter sido eu a proporcionar, tem um valor tão grande pra mim que você nem sabe. Eu me sinto esfacelada se não te vejo bem. Se te machuco. Se faço algo que mereça sua desaprovação. Eu queria que você entendesse o quão grande é a minha gratidão por você me ter feito a mulher que eu sou, porque tudo que eu faço e sou é por você. Ainda que cheia de defeitos sem que você os reconheça. Sabe, até te entendo por isso. Uma vez que eu poderia listar todas as suas piores características e nem a junção delas seria capaz de diminuir a certeza que eu tenho de que você é a pessoa mais incrível que eu conheci e que vou conhecer em toda a minha vida. Eu te amo tanto, pai, tanto. Eu me sinto tão mal por não conseguir ser a filha que eu gostaria de ser, que você merecia que eu fosse. Você merecia que eu fosse perfeita. Mas eu te agradeço tanto, tanto, por todo o apoio, todo o carinho, toda a preocupação... toda a vontade de fazer por mim o impossível, e por toda capacidade de fazer o impossível se for por mim. Eu te peço perdão por cada falha e te agradeço por saber que você me perdoaria ainda que eu não pedisse, porque dentro de todos os clichês, o melhor pai do mundo é o meu. E não há como duvidar disso, se você não fosse, eu não me sentiria tão convicta de que não existe sentimento maior que esse. E não há. Você é a força que me impulsiona a ser alguém e achar um sentido em tudo. Muito obrigada por nunca desistir de mim.
sábado, 31 de agosto de 2013
domingo, 14 de julho de 2013
Da bagunça
Então eu acordo, olho ao redor da casa, percebo que tudo voltou a ser o que era outrora, uma bagunça. Até pior. Em todos os sentidos, por dentro, por fora... É tanta garrafa de vinho vazia, tanto roupa jogada no canto do quarto, tanta dor-de-cabeça e vontade de não estar mais ali. E percebo que tudo que eu queria, eram cinco minutinhos de paz. Nem que fossem no momento em que eu acordo, antes de lembrar do transtorno miserável que eu ocasionei à minha vida. Dói, sabe? Saber que não tenho direito nem a isso. A não desfrutar da tranquilidade de uma cabeça vazia. Dá até inveja. De qualquer um. Do mais feliz, ao mais indiferente, de qualquer um que passe por mim na rua. Por saber que eu consegui juntar em mim uma quantidade de problemas digna do guiness book. Uma quantidade de tristeza que nunca imaginei que pudesse existir. E torço, toda hora, cada segundo, pra tudo se acertar. Ou pra tudo voltar ao normal. Um dia, só o que eu peço. Um dia onde eu me sinta leve, valorizada, normal, como qualquer outra pessoa tem o direito a se sentir e se sente. Só isso.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Do que eu não sei controlar
É de uma dor que até a página em branco me apavora. A dor de
não saber ou poder expressar, de temer a incompreensão, de derrubar o dominó
que consegue levar uma muralha abaixo. Um sentimento que preenche e esvazia ao
mesmo tempo, e, achando insuficiente, ainda preenche com doses amargas de incerteza.
Revezando entre medo e amor. Mas faz tudo pulsar, sendo contraditório a cada
segundo, misturando as lágrimas de alegria às de tristeza, numa espécie de
esperança mórbida e doentia. Como se eu ansiasse por uma infelicidade que eu
mesmo levanto pra buscar, que eu faço questão de possuir, ainda quando tudo que
quero e busco é a calmaria que me foi furtada... e nem sei quando. Tampouco
como. No desespero de tentar me salvar dessa onda forte que me derrubou e
desnorteou, as águas do meu oceano privado nunca foram tão escuras, nem as
noites tão gélidas. O desespero me entorpece, de modo que não nado, mantenho-me
inerte, fico a observar se algo muda ao meu redor e se, misteriosa e
milagrosamente, eu alcanço a superfície domada pela segurança que um dia senti
em mim mesma. Foi junto da calma. Agora, sem ter ao que ou a quem recorrer, com
o coração espremido na palma da minha própria mão, fico perdida dentro desse
masoquismo de imaginar como seria se eu tivesse coragem de testar atalhos na
minha estrada. Tenho tanto medo de errar a direção que fico onde estou,
observando de longe, como se eu fosse duas, minha outra metade caminhar para o
abismo que mais consegue me fascinar.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Saiu da redoma e se escondeu atrás dos muros
De repente. Como tudo em sua vida o era, mais uma vez de repente a verdade alcançava Luísa. E então, no meio desse "de repente", a menina começou a crescer e diminuir, de forma assustadora e que fugia ao seu controle. Havia um considerável tempo em que a moça sempre que olhava aos lados, avistava horizontes cada vez mais bonitos. Eles existiam, os horizontes. Contudo, uma vez que ela diminuia, tal qual Alice em seu País das Maravilhas, percebia que a relva na verdade eram paredes. Milimetricamente organizadas de forma que Luísa não reparasse que estava presa, mas estava. Não haviam chaves. Cada instante que tentava se aproximar dessas paredes, seu tamanho caia ao meio. Cada vez que se distanciava, em contrapartida, crescia o dobro. E, quando grande, era fácil acreditar que era livre, mesmo sem ser. Só aí percebeu os danos assombrosos que sua mente podia lhe causar. Até descobrir que sua liberdade havia sido furtada, sentia que tudo estava em paz e não a perturbava não ir além de onde estava. Todavia, após surgido o conhecimento de agora ter saído da redoma, finalmente, mas estar cercada de paredes, as coisas pareciam não bastar. Toda aquela linda realidade irreal não era mais suficiente. Queria enxergar o outro lado. Não podia. E se desesperava, e gritava, tudo pra dentro. Bolava um milhão de saídas, na desilusão de saber que jamais poderia sair. O mundo que era grande se tornou pequeno. As coisas pareciam oscilar ainda mais que seu tamanho. Então Luísa sentou ali, no meio da imensidão claustrofóbica daquele gramado verde, e abraçou seus joelhos torcendo pra sua constância voltar ao peito e todas as dores irem embora com as brisas.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
A redoma de vidro havia sido aberta
Era engraçado que a vida a mostrasse o quão cheia de contradições era. Ela, não a vida. Embora a vida também o fosse. Sempre acreditou na dinâmica das coisas, sempre dando o seu jeito de enxergar a dinâmica da forma mais pessimista que lhe fosse cabível, e agora estava a par, justamente pela dinâmica. Justamente pelas sucessivas mudanças, reviravoltas, quedas e crescidas às quais tinha ficado sujeita nos últimos tempos. E se afastou de quem era, sem deixar que se perdesse de si. Espero que, querido leitor, deste modo o entendimento do que estou querendo dizer se torne mais fácil. Porque assim o foi, teve que se deixar de lado para que pudesse se deixar seguir. E seguiu. Milhões de caminhos, milhões de desvios. Chegou a lugares que jamais imaginou que chegaria e, a essa altura do campeonato, sequer saberia dizer se isso foi uma experiência boa ou ruim. Mas chegou e está segura agora. Então preferia acreditar que foram experiências necessárias. Quanto ao necessário, muita coisa havia deixado de ser, muita coisa havia se tornado. Confesso, mesmo que a desarme, que a moça se sentia zonza com tanta coisa que aconteceu em tão pouco tempo, e houve muito tempo. Muita coisa multiplicada por muito tempo é mais coisa ainda. E mais coisa é mais vida, é mais dias, é mais choro e mais sorriso. E mais dela também. No meio dos cruzamentos dessas ruas que andou, acabou se desvencilhando de muitas das suas âncoras, outras tantas a acalçaram e era difícil agora. Mas ao passo que era difícil, agora era também tão mais fácil. Porque no meio de todo desequilíbrio, todo sufoco e aperto, Luísa conseguiu atravessar aquela mesma corda bamba que já lhes contou tantas outras vezes. Você acredita nisso? Ela mudou. Doeu. Curou. Melhorou. Piorou. Chegou do outro lado. Melhorou de novo e encheu de cor cada canto da casa. E tem tanta gente, tanto vento, tanta imprevisão, que ela até evitou trazer a rotina. Ficou pra trás. E o que fica pra trás, dessa vez, se tornou passado. Não tem mais aquele baú no canto do quarto, agora só tem lembrete em cada parte da mobília. Lembrando-lhe, a cada letra, que o futuro está chegando e que, se você olhar bem, o futuro é cada linha que eu escrevo a partir de agora. Eu escrevo que vai dar certo. E deu.
domingo, 24 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
Das saídas
Write down all the things that you'd like to say
Write down all the things that you'd like to change.
sexta-feira, 8 de março de 2013
Do menino sol
"Qual a graça de dias inteiramente ensolarados?
a terra, em um primeiro plano,
achata, sempre iluminada.
que coisa mais chata.
mas, Deus cansado
do exposto estático,
arredondou o plano.
nasce a escuridão no outro lado
e consigo, um misto
de sentimentos nunca antes vistos.
ali nascem e habitam.
o sol em sua volta primeira
percebe em meio a escuridão
um ponto escondido.
que será isto?
era a menina lua
sozinha em meio a láctea rua.
que beleza tímida.
envergonhada, ela se escondia.
o sol curioso
seguia a beleza que seus raios atingiam.
mais que graça,
as vezes ela lhe sorria.
a beleza que o sol enxergava,
era na medida que ele a iluminava.
a lua, menina danada, só mostrava
até onde o sol lhe incendiava."
(Hayelmo Nascimento de Morais)
a terra, em um primeiro plano,
achata, sempre iluminada.
que coisa mais chata.
mas, Deus cansado
do exposto estático,
arredondou o plano.
nasce a escuridão no outro lado
e consigo, um misto
de sentimentos nunca antes vistos.
ali nascem e habitam.
o sol em sua volta primeira
percebe em meio a escuridão
um ponto escondido.
que será isto?
era a menina lua
sozinha em meio a láctea rua.
que beleza tímida.
envergonhada, ela se escondia.
o sol curioso
seguia a beleza que seus raios atingiam.
mais que graça,
as vezes ela lhe sorria.
a beleza que o sol enxergava,
era na medida que ele a iluminava.
a lua, menina danada, só mostrava
até onde o sol lhe incendiava."
(Hayelmo Nascimento de Morais)
terça-feira, 5 de março de 2013
Do desequilíbrio
Vai, moça! Deixa que doam todas
as dores de uma só vez. Faz sentir a ardência e faz ver o sangue escorrer pelo
corte que sequer chegou. É disso que você precisa. De lembrar quem tu és. Pra
te lembrar que, pra você, vai ser sempre mais difícil. Deixa doer o passado, já
que pra ti tanto importa. Deixa doer o futuro também, já que você tanto o teme.
E não tenha vergonha do seu medo, ele é a única coisa sua que você ainda
possui. Ergue a cabeça depois. Levanta da cama, sai desse quarto. Este que te
traz a certeza de que tu estás sozinha mesmo quando rodeada de gente. Este que
te traz a certeza que é esquecida mesmo quando te olham nos olhos. E não te
enxergam. Mesmo que vejam tuas lágrimas, ouçam tua voz e observem teus gestos.
Porque você está ali, você está aqui, mas você está aquém. Tal qual tua paz que
você tanto sonha e busca. Deixa sonhar também, menina, não perca a fé. Por mais
estúpido que seja esse sentimento, tu precisas da tua fé pra manter-se firme,
mesmo agora, sem firmeza alguma. E desequilibre-se. Aproveita tua corda bamba,
samba em cima do fogo, o que mais você tem pra perder? Dê-se uma chance,
recupere sua postura. Chore até não restar mais liquido algum em seu corpo,
quando você acordar, verá que o travesseiro também já secou. Porque dor é como
o choro, vem e vai. Evapora depois. Você nem sabe pra onde foi, mas acabou
indo. E qualquer resquício de salubridade vai ser tão insignificante que vai
passar despercebido mais à frente. Pode voltar, claro. Ninguém sabe qual vai
ser a última vez que vai chorar, tampouco a última que vai sentir o chão fugir
aos pés. Algumas pessoas nascem pra ser assim, como você, difíceis. Não
reclame. Não se queixe. Não faça birra. Não implore por atenção. Só viva sua
tristeza com a mesma intensidade que vive suas alegrias e deixe-a ir quando for
a hora. Você nem sempre sabe quando é a hora, mas tem sabido de tanta coisa que
todo o seu meio milhão de outras personalidades têm se orgulhado da sua
destreza. Então levante, quando for para levantar. Importe-se apenas consigo,
pare de se importar com o que não se importam. Pegue tudo o que você precisa e
deixe. Deixa, deixar estar. Não é esse o verbo mais fascinante? Deixar. Aqui,
ali, com você ou com alguém. Um dia você aprende a viver.
Das metas abortadas
Suicídio.
Indubitavelmente, foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Caio quando
sua menina chegou em casa com a convicção de aquele não era o seu lugar. A
ideia se deu unicamente porque ele não se julgava capaz de viver sozinho, ou
sem ela. Não estava certo. E por não se achar no direito de agir sob impulso
numa situação como essa, tampouco por se achar capaz de tomar qualquer decisão
sensata, Caio fez o que de melhor sabia fazer: estabeleceu prazos.
Uma visão
imensamente fria para alguém alheio à situação, mas eu posso assegurar-lhe que
acompanhei tudo de perto e vi que frieza passou longe do que o rapaz viveu
naquele final de ano. Um mês. Sua vida agora dependia de encontrar algo que o
desse motivos pra continuar vivendo, em um mês. Era o prazo ideal, nem demais,
nem de menos.
Foi quando
começou sua contagem regressiva. Nos primeiros dias, percebi que ele se
arrependeu de não de ter se imposto apenas uma semana. Caio girava na cama a
noite inteira, soluçava, vez ou outra. E não era por ela, sabe? De certo modo,
era um choro egoísta. Era por ele. Era por ter se vinculado a alguém de modo
que não encontrasse outro sentido. Era por lembrar que antes não havia um
sentido, mas também não havia uma dor tão latente.
Sentia-se
perdido. Tudo parecia um recomeço. Morar seis anos com alguém e de repente não
ter mais aquele alguém ali pode ser assustador. Completamente: do café da manhã
à hora de desligar a tv antes de dormir. E com quem comentar a tv. Ou a quem
pedir pra apagar a luz. Ou pra quem ligar do trabalho avisando que vai chegar mais
tarde. Ou a quem surpreender chegando do trabalho mais cedo. Era como se agora
ele começasse uma vida nova, completamente independente de tudo que viveu
anteriormente.
E tinha essa
dificuldade em fechar ciclos. E em caber em ciclos, de amizades, principalmente.
O rapaz era peculiarmente sozinho. Ainda que quando a tinha parecesse ser dela,
nunca o foi, totalmente. Não por falta de vontade, ou entrega. Nunca faltou
amor. Nunca sentiu falta de nada que ela pudesse proporcionar. Era perfeita, só
não conseguiu encarar tudo da mesma forma que ele. Por essa incapacidade de
amá-lo na mesma intensidade, agora eram só ele, o cinzeiro cheio e as xícaras
sujas na pia.
Passada a
primeira semana, ainda não havia um motivo, mas a dor se abrandara. Não me
interpretem mal, não parou de doer. Doía muito, algumas vezes até mais que nos
primeiros dias, só que de vez em quando parecia haver anestesiado, de algum
modo. De algum modo ele se achava capaz de suportar o carma. De algum modo
ficou claro de que ele só precisava de si, embora fosse melhor quando houvesse
ela.
Então saiu às
ruas na segunda semana, sua aparência não estava tão ruim. Ele levou duas
meninas para casa, simultaneamente. Não supriu o que ele precisava e esperava
que suprisse. Jogar-se numa vida de libidinagem não seria a saída, lição número
dois.
Na terceira
semana, a convicção de que era a sua última de vida já havia batido à porta.
Não por uma questão de enlouquecimento, mas de prazos. Caio então decidiu fazer
tudo da melhor forma que pudesse. Assistiu aos filmes que há tanto queria e
sempre procrastinava, leu dois livros de García Márquez que sempre mantinha na
sua cabeceira, saiu na maioria das noites. Sozinho mesmo. Voltando cedo. Só pra
comer e tomar um whisky, nada demais.
De repente já
eram seus últimos dias e sua tristeza continuava. Agora, uma tristeza
diferente. Mais um lamentar que um desespero. Caio ainda não tinha algo pra
viver ou morrer por.
Seu último dia
seria justamente o 31 de dezembro. Ele acordou mais tarde que o habitual, não
intencionalmente. Ao acordar, já sabia o que fazer. Levantou e molhou o rosto
calmamente, tomou um banho demorado. Vestiu-se com sua camisa favorita e foi
almoçar num restaurante perto de casa, nada demais, o que sempre almoçava aos
sábados. Ao voltar pra casa, ainda convicto do que faria, revirou seu
guarda-roupas e pôs uma nova roupa de cama, mudou a cortina também.
À tarde,
passou os canais da TV sem pressa. Um dos canais o chamou a atenção por estar
passando um seriado que ele costumava assistir com a moça. Logo o devaneio
passou e ele reestabeleceu sua calma.
À noite,
perfumou-se e saiu. Desta vez, ligou pra um colega e os dois foram juntos tomar
umas doses, nada de muito interessante.
À meia-noite
estava em casa. Sentou na cama e constatou que o dia inteiro esteve certo: tudo
estava normal. Tudo sempre esteve. A questão de não ver sentido nas coisas
nunca foi motivo pra não querer viver outrora, agora também não o seria. Não
iria maquiar nada. Não iria morrer agora. Desde o começo do dia eu percebi que
Caio não precisaria de mim ali, que esse mês que passamos ao lado um do outro
não seria um encontro de fato. Um dia, mais à frente, eu voltaria por ele.
Agora, deixa o rapaz continuar sua vida e sua busca incessante por um motivo.
Quem sabe, na
próxima vez que nos vermos, ele me veja com outros olhos e perceba que eu não
sou uma saída de emergência, mas sim uma consequência da vida.
Com ou sem
razões, deixa Caio viver.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
domingo, 10 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Das observações
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
Divagações sobre o relógio
Ou sobre o clima. Ou sobre a ausência. Ou sobre o amor.
As palpitações cardíacas tornam-se
mais fortes, a perna se move freneticamente e eu confiro as horas de minuto em
minuto. Cada intervalo parece demorar mais. Ainda não é hoje, mas posso prever
com exatidão o dia seguinte. Na espera, uma quantidade de lembranças bonitas
que se repetem minuciosamente e descompassadas ao tempo daquele quarto.
Finalmente a ansiedade tem seu fim. Aquela batida na porta chega, a que eu
reconheceria ainda que fosse surda. E eu chego ao corredor quase que em um
passo só, desfazendo a volta na fechadura numa velocidade digna de medalha
olímpica. Não preciso perguntar quem é. O ar já foi tomado pelo cheiro da familiaridade. Se fosse um filme, esse seria o momento em que tudo aconteceria
em câmera lenta: nossos olhares se encontrando e eu enlaçando o seu corpo, tão
maior que o meu, como se você coubesse na palma das minhas mãos. Não há música,
mas ainda assim uma melodia toma os meus ouvidos e me faz querer dançar. Nesse
exato instante, uma enxurrada de endorfina é liberada em mim de forma que meus
músculos faciais formam um sorriso que você perceberia mesmo que não visse meu
rosto, que se manteria colado ao seu ombro. Percebe? Fica fácil considerar justas as variações de tempo: até os dias mais quentes se tornam
chuvosos quando me falta o seu abraço. É aí que abro os olhos e ainda estou aqui, na
chuva, coração na mão, saudade no peito, deixando essa cena se repetir mentalmente mil vezes antes de te ver chegar.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Suplico
Você sabe conviver com pessoas intempestivas, emotivas, vulneráveis, amáveis, que explodem na emoção: acolha-me!
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
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